ISAM: as estações espaciais para fabricação e manutenção no espaço

ISAM

Em janeiro deste ano, a FCC (Federal Communications Commission), agência governamental americana que regula as telecomunicações, publicou uma Proposta de Regulamentação (Projeto de NPRM – Notice of Proposed Rulemaking), na qual propõe uma estrutura de licenciamento para estações espaciais que conduzem atividades ISAM (In-Space Servicing, Assembly, and Manufacturing).

Atividades classificadas como ISAM são aquelas relativas a manutenção, reabastecimento, montagem e/ou fabricação de artefatos no espaço (equipamentos, satélites e outras estruturas), em estações espaciais, para serem utilizados em órbita ou na superfície dos corpos celestes.

No documento, a FCC pede comentários do público e da indústria sobre sua proposta de criar uma nova seção em sua regulamentação – intitulada “Aplicativos para Estações Espaciais ISAM” – que agregaria os requisitos que os candidatos a essas estações espaciais devem cumprir para receber uma licença da FCC. A iniciativa da agência americana sinaliza o potencial de crescimento e relevância desse novo campo tecnológico.

Manutenção de satélites em órbita

Essas estações espaciais são concebidas para fornecer um ambiente controlado e adequado para realizar operações que podem ser difíceis ou impossíveis de executar na Terra. Possibilitam a realização de atividades como reparo, manutenção, montagem e até fabricação de espaçonaves e satélites, mesmo os que não foram projetados para manutenção e possuem um prazo limite de vida útil.

A manutenção permite a extensão da vida útil dos satélites e a capacidade de atualização à medida que a tecnologia evolui na Terra. A manutenção de satélites em órbita é um desafio devido às condições espaciais adversas, ao risco potencial de danificar ativos de alto custo em colisões durante a acoplagem e às dificuldades em manter a estabilidade durante a manutenção.

Essas estações ISAM também podem ser um recurso importante para testes de tecnologias espaciais e na gestão de questões ligadas à sustentabilidade no espaço e controle de lixo espacial. Não é à toa que vários projetos nessa área já estão sendo implementados.

OSAM-1, SmartSat e GITAI

Um exemplo de projeto em andamento é a missão OSAM-1 (On-orbit Service, Assembly, and Manufacturing 1), da NASA. É uma espaçonave projetada para testar, em 2026, o reabastecimento de satélites em órbita. Um segundo objetivo é implantar um robô separado chamado Spider (Space Infrastructure Dexterous Robot) para construção de novas estruturas no espaço.

A conclusão bem-sucedida desta missão demonstrará que as tecnologias de manutenção estão prontas para incorporação em outras missões da NASA, incluindo empreendimentos para exploração e ciência. A NASA também está transferindo tecnologias OSAM-1 para entidades comerciais para ajudar a impulsionar uma nova indústria de serviços domésticos.

O Centro de Pesquisa Cooperativa SmartSat, na Austrália, também está apoiando pesquisas para desenvolver capacidades de ponta a ponta em manutenção, montagem e fabricação em órbita. O parceiro de pesquisa da SmartSat, a Universidade de Sydney, liderará o projeto, que desenvolverá tecnologias robóticas de satélite para conectar-se com outros satélites para realizar reparos e manutenção em órbita. Os parceiros da indústria – Abyss Solutions, ANT61, Space Machines Company, Sperospace e Spiral Blue – também apoiarão o projeto de pesquisa.

Outro projeto na área é a GITAI, que significa ciborgue em japonês. Em fevereiro, a empresa que foi uma startup fundada em 2016 no Japão mas que no final de 2023 mudou sua sede para os EUA, hoje uma líder mundial em robótica espacial, anunciou que seu sistema de braço robótico duplo autônomo (S2) chegou com sucesso à Estação Espacial Internacional (ISS) para conduzir uma demonstração externa de manutenção, montagem e fabricação no espaço a bordo da ISS.

O sucesso da demonstração confirma a viabilidade desta tecnologia como um sistema totalmente operacional no espaço. Agora, a GITAI pretende atingir o chamado Nível de Preparação Tecnológica (TRL) 7 e estabelecer capacidades ISAM. A tecnologia TRL 7 exige que o modelo ou protótipo funcional seja demonstrado em um ambiente espacial.

 

Imagem: NASA: satélite LanSat-7 e Spider