6G: o mundo começa a construir essa nova geração

6G

Apesar do 5G não estar plenamente implementado no mundo, a indústria já faz testes com o 5G Advanced, uma evolução do 5G, e discute também o 6G, a próxima geração de redes móveis, prevista para se tornar viável comercialmente a partir de 2030.

É normal que as discussões sobre uma nova tecnologia ganhem foco na indústria, na academia, na comunidade mundial e nos órgãos de padronização, mesmo que a geração anterior ainda não tenha sido totalmente difundida. Assim, UIT (União Internacional de Telecomunicações), liderada pela ONU (Organização das Nações Unidas), quer definir a visão do 6G até 2025. O 3GPP, consórcio internacional de empresas do setor de telecomunicações, deve definir as métricas para seu funcionamento até 2027. Até lá, ambas as instituições estão abertas a sugestões de empresas, grupos de estudo e acadêmicos.

Aqui no Brasil, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) está encarregada do Grupo de Trabalho 5D (WP 5D) — responsável pelos aspectos gerais dos sistemas de comunicações móveis internacionais. O grupo faz parte da Comissão de Estudos 5 (SG 5), da União Internacional de Telecomunicações (UIT-R), que determinará as mudanças no 6G para redes de internet fixas, móveis, por rádio e satélite.

Mas as promessas ambiciosas do 6G só poderão se concretizar com uma infraestrutura robusta. Isto vai além de apenas estabelecer as bases; trata-se de construir uma rede de tecnologias interconectadas que possibilitam o fluxo de dados, no padrão necessário para as aplicações que se pretendem para o 6G. E a tecnologia satélite faz parte dessa arquitetura. Por isso, várias iniciativas estão sendo realizadas.

O satélite e as iniciativas pelo mundo

O Memorando de Intenções (MOI) assinado pela GSMA e a Agência Espacial Europeia (ESA) visa fortalecer parcerias entre as indústrias móveis e de satélite para colaborar em tecnologias que reúnam as duas soluções. As duas organizações concentrarão esforços na tecnologia que integra comunicações por satélite com 5G e futuras redes 6G. O centro de inovação da GSMA Foundry trabalhará em estreita colaboração com o Hub 5G/6G da ESA, baseado no Centro Europeu de Aplicações Espaciais e Telecomunicações (ECSAT) em Harwell, Oxfordshire. O ESA Hub reúne a indústria de satélites para trabalhar em novos programas colaborativos e inovadores. Estes centros trabalharão em desafios tecnológicos conjuntos que apoiam redes terrestres e não terrestres.

Por sua vez, a China Mobile, operadora de telecomunicações estatal chinesa, anunciou recentemente o lançamento dos primeiros satélites 6G do mundo. Dois satélites experimentais em órbita terrestre baixa (LEO), a 310 milhas acima da Terra. Um deles equipado com arquitetura 6G, um desenvolvimento conjunto da China Mobile e da Academia de Inovação para Microssatélites da Academia Chinesa de Ciências. O outro satélite utiliza a tecnologia 5G. A China Mobile planeja realizar experimentos em órbita nesses satélites de teste e usar a descobertas para aprimorar o desenvolvimento de tecnologia espaço solo.

O Brasil e o 6G

O Brasil participa do projeto Brasil 6G, que busca definir os requisitos e desafios para o 6G no país. O projeto foi iniciado pelo Inatel (Instituto Nacional de Telecomunicações), que é associado à Abrasat, com o apoio do MCTIC e da RNP, e conta com a participação de um conjunto de universidades. O objetivo é definir quais são os passos necessários para que a futura geração de redes móveis seja capaz de atender as aplicações e casos de uso importantes para o desenvolvimento econômico e social do país.

“Estamos iniciando de forma consistente os estudos de uma tecnologia de comunicação móvel em sincronia com o que acontece ao redor do mundo, com possibilidade de contribuir de forma efetiva para definição das padronizações mundiais da rede 6G”, explica o Professor Carlos Nazareth, diretor do Inatel.

O professor explica que nos últimos cinco anos a indústria de satélite se desenvolveu muito no atendimento de dados banda larga com tecnologia de baixa e média orbita compondo constelações para uso em grande escala. Todo este avanço fez com que a mundo de satélites se aproximasse muito do mundo das comunicações moveis em termos de soluções tecnológicas, o que facilitará muito a integração em termos de definições e padronizações normativas. “Embora os requisitos técnicos para embarque das soluções 6G em satélites ainda estejam em processo de definição e testes ao redor do mundo, o que está sendo trabalhado para embarque das soluções 5G nos satélites já será um grande avanço para integração definitiva das redes”, diz.

“Existem muitas aplicações que necessitam de desempenhos e características diferentes em termos operações das redes. Esta visão mais abrangente na definição do 6G é que permitirá a integração dos conceitos terrestre, móvel e satelital no atendimento das necessidades de usuário de forma integrada e bem estruturada em termos de interoperabilidade. Esta é a grande oportunidade que o 6G traz no desenho de uma rede que se alinhe as diferentes necessidades de conectividade”, completa o professor Nazareth.

Os satélites e o 6G

Um satélite para rede 6G tem algumas características diferentes dos usados nas tecnologias anteriores, como o 3G, 4G e 5G. Entre elas:

• O satélite é capaz de operar na faixa de frequência dos terahertz, que permite uma transmissão de dados muito mais rápida e eficiente do que as faixas usadas atualmente pelo 4G e 5G.

• Na interação direta com smartphones e demais gadgets dos usuários finais, são usados os satélites de baixa e média órbitas (LEO e MEO). Embora os satélites geoestacionários (GEO) também tenham um papel nessa rede, principalmente como backbones.

• Usa inteligência artificial para otimizar o consumo de energia e melhorar a qualidade do sinal.

• Serve como uma plataforma de testes para aplicações da tecnologia 6G no espaço, como rastreamento e prevenção de desastres ambientais, construção de cidades inteligentes e comunicação entre satélites