Satélites detectam desde vazamentos de água potável até jazidas de ouro

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Há alguns dias, o Jornal Nacional apresentou uma matéria sobre uma tecnologia que está ajudando a prefeitura do Rio de Janeiro a combater o desperdício de água tratada na cidade. Trata-se de uma interessante aplicação de sensoriamento remoto via satélite que vale a pena ser conhecida, por isso reunimos as informações da reportagem aqui.

Como explicava a matéria, muitos vazamentos de água nas cidades não são visíveis devido à capa de asfalto nas ruas, um problema para companhias de água em qualquer lugar. O Banco Mundial estima que, em média, 30% da água potável de uma companhia de água (até 50% em locais com infraestrutura antiga ou não confiável) é perdida principalmente em vazamentos. Segundo o Instituto Trata Brasil, em 2019, o Brasil desperdiçou uma quantidade de água potável que possibilitaria abastecer cerca de 30% da população do país.

Por isso, como contou o Jornal Nacional, a empresa que administra o sistema de água e esgoto do Rio de Janeiro, resolveu investir na tecnologia da empresa israelense de análise geoespacial Asterra. A empresa provê soluções analíticas baseadas em dados de radar de abertura sintética (SAR) provenientes de satélites.

Além de imagens de satélite de alta resolução, a tecnologia utiliza algoritmos de aprendizado de máquina e dados de sensores de campo para identificar os vazamentos. Por meio da emissão de ondas, que atingem até 3 metros de profundidade fazendo um scaneamento do solo, é possível identificar os locais onde há presença de cloro, substância usada no tratamento da água distribuída à população.

Como mostrou o repórter Hélter Duarte, o satélite consegue diferenciar os vazamentos de água potável de água do lençol freático, esgoto ou rios e aponta com mais de 80% de precisão os pontos de vazamento do sistema de distribuição de água da cidade. As informações vão para o centro de operações da companhia. A partir desse mapeamento, funcionários vão aos locais indicados e com um geofone conseguem ouvir qualquer vazamento na tubulação.

A reportagem informa que em menos de um ano, o satélite já scaneou quase 600 km de tubulação na cidade e gerou uma economia de 158 milhões de litros de água potável, suficientes para abastecer 7 mil pessoas por ano. Só no Rio de Janeiro, a estimativa de toda a água tratada que se perde nos vazamentos daria para atender 2 milhões de pessoas por ano.

Satélites detectam até jazidas minerais

Mas não só vazamentos de água podem ser detectados por satélites. Outra aplicação importante do uso de sensoriamento remoto foi realizada pelo Instituto de Geociências (IG) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), desta vez, aplicada à exploração mineral. Por meio de imagens de dois satélites, o Landsat e o Terra, ambos lançados pela agência espacial norte-americana (Nasa), seria possível identificar locais favoráveis à ocorrência de minérios importantes comercialmente, como ouro, prata e cobre.

A partir de uma parceria da universidade com a empresa canadense de mineração Iamgold, uma primeira experiência foi realizada na Província de Rio Negro, no norte da Patagônia, região favorável ao uso de imagens de satélite para geologia porque o clima é árido e a vegetação pouco densa. Os pesquisadores localizaram inicialmente diversas áreas propícias à ocorrência de ouro e de prata, a partir das imagens do Landsat. Em cerca de 50 áreas identificadas, 42 revelaram presença de ouro.

Como descreve o projeto “Avaliação das imagens multiespectrais do sensor Advanced Spaceborne Thermal Emission and Radiometer”, coordenado por Álvaro Penteado Crósta*, pouco tempo após essa primeira experiência, foi lançado um novo sensor multiespectral a bordo do satélite Terra, denominado Aster, sigla de “Advanced Spaceborne Thermal Emission & Reflection Radiometer”, desenvolvido pela Nasa e pela Agência Espacial do Japão.

As informações do Aster baseiam-se em faixas de radiação eletromagnética mais estreitas e servem, entre várias outras aplicações, para identificar em detalhes as características de diferentes minerais.

A técnica identificaria nas imagens a assinatura espectral dos minerais, que é a forma como os materiais da superfície da Terra interagem com a radiação eletromagnética. Cada tipo de rocha interage com a radiação do Sol, refletindo ou absorvendo determinados comprimentos de onda, transformando-se numa espécie de impressão digital desse material.

Uma vez identificados os vários minerais de alteração hidrotermal, por meio da aplicação de técnicas de processamento de imagens que extraem seletivamente apenas a informação de interesse dentre a enorme quantidade de outras informações contidas nas imagens Aster, eles são transpostos para mapas que mostram as zonas de alteração hidrotermal sobrepostas a imagens de relevo topográfico também captadas pelo mesmo sensor. A composição cartográfica resultaria numa projeção com características tridimensionais da região.

Seja na detecção de vazamentos de água, seja na facilitação do reconhecimento de minerais com valor comercial, as novas aplicações de tecnologias de sensoriamento remoto via satélite deverão contribuir para o uso eficiente dos recursos naturais do planeta e em benefício do meio ambiente e de setores econômicos.

 

*Projeto Avaliação das imagens multiespectrais do sensor Advanced Spaceborne Thermal Emission and Radiometer (nº 02/07978-1); Modalidade Linha Regular de Auxílio à Pesquisa; Coordenador Álvaro Penteado Crósta – Unicamp.