Congresso Latinoamericano de Satélites reúne líderes do setor

Congresso Latinoamericano de Satélites

As lideranças do setor de satélites estão otimistas com as perspectivas futuras para essa indústria. Isso ficou claro durante as duas sessões do Summit Executivo, realizadas durante o Congresso Latinoamericano de satélites 2022, evento da Glasberg Comunicações, organizado por Teletime, nos dias 1 e 2 de setembro, no Rio de Janeiro.

O evento reuniu em dois painéis alguns dos principais executivos dessa indústria. No primeiro Summit: Tobias Dezordi, vice-presidente Latam da Gilat; Gustavo Silbert, diretor executivo da Embratel; Rodrigo Campos, diretor geral da Eutelsat do Brasil; Mauro Wajnberg, diretor geral da Telesat Brasil; Rafael Guimarães, diretor geral da Hughes do Brasil; Felipe Saad Lukowiecki, diretor de vendas para América Latina, ABS. No segundo Summit: Leandro Gaunszer, diretor geral da Viasat Brasil; Márcio Brasil, diretor geral, Intelsat do Brasil; Clóvis Batista, chairman da Hispamar; Jurandir Pitsch, VP de vendas América Latina da SES; Carlos Xavier, VP de Vendas e Diretor Geral da SpaceBridge do Brasil.

Vários acontecimentos recentes vem promovendo uma transformação relevante nesse segmento, acostumado a uma estabilidade pouco vista na maioria dos mercados. A migração de serviços de televisão satelital aberta (TVRO) para a banda Ku, para a liberação da faixa de 3,5 GHz para o 5G, é um exemplo. Ela trouxe novas oportunidades de ofertas ao mercado. Mas não só ela. As mudanças regulatórias ocorridas recentemente como redução do Fistel para o setor, concessão de licenças de exploração de satélites por prazo indeterminado, aprovação do novo Regulamentação Geral de Satélites, redução de ICMS sobre serviços de telecom, também foram essenciais para a transformação que começa a ocorrer no setor. Além disso, a chegada do 5G, para o qual o satélite é fundamental e, talvez o mais importante movimento para essa indústria em muito anos, a chegada de novos players no mercado de satélites que, além de trazer mais visibilidade para essa tecnologia, tradicionalmente pouco conhecida pelo público em geral, também aumenta a competição e com ela promove um ambiente mais dinâmico, com mais inovação e criatividade.

Como resposta a esse novo cenário, surge um movimento de verticalização e de consolidações no setor, gerando ampliação de oferta de produtos e de capacidade de investimento. As empresas começam a expandir sua atuação tanto nos mercados de consumo como no B2B. A esse respeito, uma das perguntas respondidas pelos executivos durante o Congresso foi: onde estão as oportunidades mais interessantes para se desenvolverem as verticais de satélites? Além disso, também colocaram a suas visões sobre a chegada de competidores internacionais que atuarão com constelações de baixa órbita (LEO). A seguir, um resumo do que foi falado.

Backhaul

Com o 5G, o backhaul de celular é, atualmente, uma das principais oportunidades de negócios para operadoras de satélite no Brasil. Na opinião dos participantes, a universalização da banda larga definitivamente se dá através da mobilidade, o que faz do celular um grande negócio. Ainda mais com a chegada do 5G e as expansões previstas para o 4G, incluindo as obrigações do próprio edital de 5G. O satélite tem um papel relevante na entrega dessa conectividade nos locais onde a infraestrutura terrestre é inviável física ou economicamente. Em relação ao custo, considerando que o backhaul já está equacionado em 4G, os participantes acreditam que o caminho para o 5G é muito natural, o desafio é monetizar a operação nos lugares mais remotos.

Radiodifusão

Para os participantes do Summit, a TV linear não vai acabar. E a radiodifusão é uma importante vertical para o setor. Para os executivos, as mudanças nessa indústria não são algo novo. Existe uma mudança de comportamento na forma como as pessoas consomem vídeo. O que as empresas do setor que oferecem essa vertical procuram é ajudar os clientes a estarem em todas as plataformas. Há um investimento em soluções que não se restringem aos satélites. Uma tendência para o oferecimento de soluções mais completas em que clientes entregam o vídeo para as infraestruturas de satélite que fazem todo o trabalho de uplink, layout, transmissão, distribuição. A tendência é que, no futuro, isso seja feito na nuvem, a partir do desenvolvimento de soluções já em andamento.

TVRO

A migração de serviços de televisão satelital aberta (TVRO) para a banda Ku para a liberação da faixa de 3,5 GHz para o 5G não significa que não exista mais espaço para a banda C no mercado. Alguns players seguem apostando nessa banda, se antecipando à migração conduzida pela Anatel, e ainda se vislumbra um mercado forte no Brasil com esse espectro satelital. Segundo os participantes, todos os clientes que estão colocando canal aberto na banda Ku continuam utilizando banda C nos seus serviços profissionais, na medida em que nenhuma outra banda oferece tanta disponibilidade e confiabilidade como a banda C. Isso faz com que a banda C ainda tenha uma vida bastante longa pela frente.

Escola Rurais

Além das possibilidades de fornecer capacidade para backhaul de operadoras móveis, o edital do 5G também traz a obrigação de conexão em escolas. O cumprimento dessa obrigação também representa um campo de oportunidade para as operadoras de satélites. Algumas empresas têm interesse em participar do chamamento do Grupo de Acompanhamento do Custeio a Projetos de Conectividade de Escolas (GAPE) e da Entidade Administradora da Conectividade de Escolas (EACE).

Apesar de ser considerada uma ótima oportunidade e uma necessidade do mercado e do Brasil, a conexão nas escolas traz muitos desafios. A complexidade de instalação, a manutenção, dificuldade de acesso, a existência de escolas sem energia, algumas sem computador, fazem parte da realidade desse segmento formado por cerca de 120 mil escolas, sendo que 38 mil podem não estar conectadas, representando oportunidade para a tecnologia de satélites. Outro ponto levantado pelos executivos é quanto ao requisito de um mínimo de 50Mbps de velocidade. Não faz sentido, segundo algumas empresas, entregar a velocidade de 50, 100 ou 200 Mbps em tecnologia satelital, em uma escola muitas vezes com poucos alunos. O recurso público poderia ser usado de uma forma mais eficiente para atender mais escolas, acreditam.

Comunicação embarcada

Assim como as pessoas passaram a evitar hotéis sem WiFi, elas passarão a evitar voos sem acesso a essa tecnologia, acreditam os participantes dos Summits. Além da aviação comercial, também estão sendo desenvolvidas soluções marítimas e mobilidade terrestre focada em trens de carga, mineração e soluções para o agronegócio.

A Chegada de novos atores

Sobre a chegada de novos players para atuar com constelações de baixa órbita (LEO), os executivos acreditam que a competição é muito bem-vinda. Ela traz mais eficiência e criatividade. Mas, argumentam os líderes do setor, desde que se possa concorrer de forma isonômica. O que significa concorrer com as mesmas regras, as mesmas condições, sem assimetrias quanto ao que as empresas podem fazer, e quanto à regulação, respeito às órbitas e sem favorecimento explícito de algum player em determinadas situações.

Foi debatido também o enorme desafio financeiro relacionado com a implementação das constelações globais. Apesar de utilizarem satélites de menor custo e com lançamentos cada vez mais acessíveis, o volume do sistema necessita de elevados investimentos. Para os participantes, sob o ponto de vista do negócio, presa-se por modelos que sejam rentáveis para as empresas, principalmente para aquelas de capital aberto. Os negócios precisam ser sustentáveis pelo menos em uma perspectiva de médio e longo prazo

Outro ponto importante e que pode representar um diferencial do mercado satelital para o mercado residencial é que oferecer o serviço não significa apenas vender conexão. A empresa realmente precisa ter a cadeia de distribuição inteira: é necessário dar atendimento, suporte técnico, disponibilizar callcenter. E isso as empresas tradicionais desse setor já fazem há muito tempo.