Transformação da indústria: os impactos no mercado corporativo

Starlink

Uma das preocupações decorrentes da mudança de paradigma que está ocorrendo na indústria, com a chegada de um novo ator, a Starlink, é com o mercado corporativo e o uso de soluções que não foram pensadas necessariamente para esse cliente. O próprio governo, no termo de referência do GESAC, incluiu parâmetros que, por condições de custo e de capacidade, são difíceis de serem atendidos por outros tipos de soluções. No painel “Os avanços e desafios do setor”, realizado durante o Congresso Latinoamericano de satélites, esse foi um dos tópicos de discussão de alguns dos líderes de empresas que operam satélites e integradoras. Tobias Dezordi, (Gilat), Rodrigo Campos (Eutelsat do Brasil), Gustavo Silbert (Embratel), Rafael Guimarães (Hughes no Brasil), Clóvis Baptista (Hispamar), mostraram suas visões sobre o assunto e se entendem que o amadurecimento da indústria e do mercado vai demonstrar que uma solução que parece muito boa para uma aplicação pode, não necessariamente, funcionar bem para outra. Veja o que eles disseram.

Rodrigo Campos: “o mercado corporativo tem exigências de qualidade de serviços completamente diferentes dos usuários residenciais. Há uma tendência natural, quando aparece alguma novidade e que, sob o ponto de vista de marketing, tem um apelo enorme, de se criar uma expectativa e até uma adesão automática. Mas, ao longo do tempo, o mercado vai se auto-educando. Vai vendo que para algumas aplicações determinada solução funciona bem, para outras não. A mesma coisa para o Governo. A conectividade é só um alavancador do que vem depois. É preciso ter em mente o que se espera entregar de resultado no final, por meio da conectividade. Para a educação, por exemplo, logicamente o que se almeja é a melhoria de aprendizado. Então, além de parâmetros de velocidade, é necessário que se considere, por exemplo, se existe uma franquia, se o atendimento é limitado a uma URA. Acredito que aplicações críticas de empresas precisam ter uma SLA”.

Gustavo Silbert: “eu acho que todos os clientes, seja governo ou privado, buscam aumento de produtividade, ou seja, pagar menos por mais. Então, quando qualquer tipo de solução chega ao mercado prometendo uma oferta assim, é sempre muito atrativo. Já vimos isso acontecer muitas vezes nessa indústria. Nós, como habilitadores digitais, temos que analisar como é que podemos aproveitar esse tipo de disrupção nos nossos negócios para beneficiar os clientes. É possível, por exemplo, incluir essa tecnologia no meu portfólio agregando aquilo que o cliente espera também do ponto de vista de SLA, de atendimento, de prazo de recuperação, enfim, de tudo isso que a gente vive no mundo corporativo”.

Rafael Guimarães: “o que está sendo ofertado é, de fato, um serviço sensacional. Mas para determinados nichos. Não é para o cliente que está realmente muito remoto. O público que está tendo acesso à conectividade pela primeira vez não vai querer fazer a instalação sozinho. No corporativo também estamos vendo situações em que essa tecnologia se aplica muito bem. Estamos até analisando se é possível incluir isso em alguma de nossas ofertas. Eu acho que é um processo de aprendizado para todo mundo, concorrentes e compradores. Daqui a pouco esse processo decanta e vamos entender onde estão os nichos, as oportunidades. Onde é que podemos competir bem e onde é que outros podem eventualmente ter mais sucesso”.

Tobias Dezordi: “acredito que existe todo o processo de adequação e as pessoas vão começar a entender que tem espaço para todo mundo. No nosso caso, por exemplo, para as soluções de grande throughput, eu não tenho dúvida nenhuma que GEO e MEO vão continuar sendo uma solução. Agora, o mercado vai ter que entender que, provavelmente, num futuro não muito distante, vai ter que ter as três soluções, GEO, MEO e LEO de alguma forma. Houve uma disrupção no mercado e agora é preciso entender como se adequar a isso”.

Clovis Baptista: “acreditamos que existem perspectivas favoráveis em termos de crescimento, apesar de toda a complexidade do nosso país. Também estamos abertos a parcerias e colaboradores. A nossa visão também é que existe um Brasil profundo, composto por vários desertos digitais. Existem imensas necessidades não atendidas. E nós temos um foco muito grande de colaborar com o governo brasileiro para a redução da desigualdade digital no Brasil. Nós temos soluções que eu diria bastante interessantes do ponto de vista de entrega da solução e do custo, para atendimento a comunidades isoladas, comunidades remotas. Dessa forma, acho que há espaço para todos”.