Conectividade significativa: transformar em melhoria de aprendizado é o desafio

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O maior desafio da conectividade na educação hoje é transformar conectividade em melhoria de aprendizado, avaliou o conselheiro da Anatel, Artur Coimbra, durante o painel “O satélite e a agenda da conectividade significativa”, realizado durante o Congresso Latinoamericano de satélites, no final de setembro, que também contou com as presenças do presidente do Sindisat, Fábio Alencar e do presidente da Abrasat, Mauro Wajnberg, como moderador.

Segundo o Conselheiro, hoje a Anatel vem construindo as iniciativas regulatórias baseada no conceito de conectividade significativa, um conceito trazido pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), que busca olhar para além da universalização. O conceito pode ser resumido em três dimensões: infraestrutura, acesso a dispositivos adequados e suficientes para pleno aproveitamento da conectividade e habilidades digitais.

Essa última dimensão é a mais controversa, segundo o Conselheiro, já que há uma dificuldade em se chegar a um consenso sobre em que medida alguém tem ou não habilidade digital em um ambiente que está sempre mudando. A importância disso para o satélite é que, como essa tecnologia ainda é a infraestrutura que chega a quem está na borda, ela vai chegar para uma pessoa que está na fronteira das habilidades digitais e, provavelmente, nunca acessou ou acessou muito pouco a internet.

O Conselheiro Coimbra explica que a Anatel está tentando fortalecer o diagnóstico sobre esse assunto. Ele informa que o Brasil está fazendo uma pesquisa com o IDEC para, partir dos achados, desenvolver as políticas para aprimorar essas habilidades digitais. As pesquisas que até hoje têm se baseado nos indicadores da UIT posicionam o Brasil bem abaixo da média da OCDE em habilidades básicas e habilidades intermediárias e também abaixo da média dos países da América do Sul. “Precisamos estudar melhor quais são os padrões de uso do Brasil para formar indicadores que reflitam as necessidades das pessoas e dos mercados”, diz.

O custo da conectividade

Para Fábio Alencar, apesar de todos desejarem o máximo de conectividade, existe um trade-off para isso que pode não estar sendo considerado na definição de padrões para a conectividade nas escolas. “Temos visto muita discussão de qual é a banda necessária para um atendimento pleno nas escolas. Fala-se em 1Mbps por aluno. Considerando a quantidade de alunos no maior turno da escola, temos algo como um mínimo entre 50 Mbps ou até 200Mbps ou 1Gbps. Sem dúvida é um ótimo padrão. Mas existe um custo para isso. Quanto maior o padrão, mais caro vai ficar e menos provedores vão conseguir atender. Ao passo que se esse padrão for um pouco reduzido é possível ter mais competição e, assim, reduzir o custo.

O Conselheiro explicou que o tema conectividade e educação e qual seria a banda ideal, vem sendo discutido há muitos anos. O Ministério das Comunicações sempre procurou saber do Ministério da Educação quais aplicações mais importantes para os professores, para então definir a banda necessária. Só que muitas aplicações não eram nem conhecidas pelos formuladores de políticas, porque a educação é um ambiente muito descentralizado, “você tem aplicações, tem diferentes municípios, rede de escolas estaduais, municipais, cada diretor tem muita autonomia, inclusive para fazer o programa de ensino. E isso dificultava essa definição. Mas, fundamentalmente, eu acredito que o ideal é ter uma banda que permite todos os tipos de aplicações mais comuns, desde mecanismo de interação de baixo uso até interação por vídeo de alta qualidade. Esse é o ideal. Mas o fato de ter uma banda menor não significa que a conectividade é ruim. É possível adaptar aplicações pedagógicas a padrões de uso de banda menor. Ter uma conectividade de média capacidade em relação a uma conectividade de alta capacidade, não inviabiliza acesso a aplicações pedagógicas”.

Conectividade e aumento da aprendizagem

Para o Conselheiro, o maior desafio da educação não é o tamanho da banda, mas transformar essa conectividade em aumento da aprendizagem. “Quando olhamos os estudos internacionais que comparam o desempenho da escola antes e depois da conexão, muitos mostram que o resultado foi zero. Não melhorou nem piorou o desempenho educacional. Esse é o desafio, conectar a banda que resulte em melhoria da aprendizagem”, diz.

Mauro Wajnberg observa que outra questão se refere às múltiplas frentes que existem para atendimento das escolas: os compromissos do leilão 5G, o programa Wi-Fi Brasil, as telcos fazendo conversão de multa em atendimento à escola. “Eu sempre me pergunto se há alguém que olha o todo e coordena isso para evitar sobreposição ou dar uma política única. Mas nos últimos dias tivemos a notícia da formação de um comitê justamente para tentar organizar essas frentes*.

“Esse comitê tem o objetivo de coordenar e entender que conectar escolas não é só levar a internet”, explicou o Conselheiro. “Tem que formar professores, desenvolver material didático, aplicar esse material didático, fazer gestão de contrato de internet, formar o gestor da escola para saber lidar com isso”, diz. “Hoje você tem o presidente da república junto com o ministro das comunicações já estabelecendo que isso é uma prioridade. Acredito que não vai haver dificuldade de obter recursos. A iniciativa de formalizar um programa com um comitê de coordenação, é fundamental para isso acontecer”, completa.

* Na ocasião do lançamento da Estratégia Nacional de Escolas Conectadas, o presidente Lula assinou o decreto que cria o Comitê Executivo coordenado pelo Ministério da Educação, Ministério das Comunicações e Casa Civil da Presidência da República que implementará a estratégia de conectividade nas escolas.