O futuro da indústria de satélites segundo suas lideranças

LEO

Existe uma disrupção acontecendo na indústria de satélites com a chegada das constelações LEO e o avanço das operações em órbita baixa. Mas a novidade, de um ano para cá, é que essa indústria já demonstra que está encontrando caminhos para se adaptar a essa nova realidade competitiva. Em alguns casos, parcerias começam a ser construídas. As consolidações também aparecem como resposta possível a esse movimento de entrada de novos atores no mercado. E outro caminho que certamente a indústria vai perseguir é a atuação do setor dos satélites em determinados nichos e segmentos de mercado que requerem soluções específicas.

Como as empresas estão vendo esse momento e trabalhando para dar uma resposta a essa transformação? O painel “Futuro e perspectivas do mercado”, realizado durante o Congresso Latinoamericano de Satélites, reuniu lideranças das empresas que operam satélites e integradoras para discutir o tema. Participaram: Leandro Gaunszer (Viasat), Ricardo La Guardia (Intelsat), Jurandir Pitsch (SES), Mauro Wajnberg (Telesat), Bart Van Utterbeeck (ST Engineering iDirect), Estevão Ghizoni (ABS). A seguir, algumas das visões apresentadas.

Mauro Wajnberg (Telesat): “esse é um momento único na indústria e as empresas estão buscando seus caminhos. Nós escolhemos o caminho da constelação, da órbita baixa. Entendemos que esse é o caminho para o satélite de comunicação. A boa receptividade do mercado às ofertas baseadas em constelação de órbita baixa, globalmente, está dissipando qualquer ceticismo relacionado ao modelo LEO. Pretendemos oferecer uma solução que atenda o mercado corporativo. Hoje estamos vendo a utilização de soluções projetadas para o mercado consumidor sendo utilizadas para o mercado corporativo. Isso não é o ideal. O mercado corporativo tem uma série de requisitos para funcionar corretamente. Então, hoje falta isso. E temos a frota GEO também, que não vamos desprezar e é o nosso dia-a-dia.”

Ricardo La Guardia (Intelsat): “eu vejo esse momento de forma muito positiva. Toda transformação gera inovação. Então é esse o nosso foco hoje, a inovação. E também o cliente final. É importante estar próximo do cliente, entender as suas necessidades. Nossa estratégia é a multiórbita. Nenhuma órbita é solução para tudo, a combinação é importante. E nesse caso, as parcerias fazem todo o sentido. Estamos também fortalecendo toda a parte de infraestrutura. Investimento no 5G, investimento em criar essa solução total. Em termos de capacidade, estamos investindo em novos satélites.”

Jurandir Pitsch (SES): “não existe uma resposta única à essa transformação. Essas mudanças só passam a ser um problema quando você é pego de surpresa. Mas nós percebemos essas mudanças há muito tempo. Estamos falando de multiórbita há 10 anos. Completamos 10 anos de operação da nossa frota MEO. Estamos iniciando já a segunda geração, com muito mais capacidade, com muito mais flexibilidade. Os últimos 12 meses, foram de intensas mudanças. Por exemplo, assumimos a operação de uma empresa na área de defesa. E isso é algo que os LEOs não conseguem fazer. O Departamento de Defesa poder controlar os beams, eles mesmos, só os MEOs oferecem essa possibilidade. É algo que essas constelações, que são voltadas mais ao consumer ou mesmo para um business, não fazem.”

Leandro Gaunszer (Viasat): “os novos players comprovaram que realmente é viável ter uma constelação e que de fato ela fornecesse o serviço de forma massiva e isso é importante para a indústria. O que ainda não está claro é a viabilidade financeira do modelo. O grande desafio para o LEO é entendermos o modelo de sustentabilidade financeira do negócio. Acho que vai ser interessante quando tiver uma empresa de capital aberto nesse negócio. Aí vamos entender de fato se esse é um modelo replicável do ponto de vista global. Em relação à estratégia para esse momento, nós entendemos que o modelo vencedor é o multiórbitas. É um modelo em que é possível atuar especificamente em nichos de mercado e com a tecnologia mais apropriada para cada um.”

Estevão Ghizoni (ABS): “na ABS, a nossa estratégia são as parcerias. Nós atuamos em parceria com provedores aqui no Brasil, desenvolvendo esse tipo de serviço para serem oferecidos aos diferentes segmentos. Vamos continuar. O momento atual é de disrupção, e vemos isso como um desafio, mas também uma oportunidade para sermos criativos e oferecer modelos que beneficiem o cliente final.”

Bart Van Utterbeeck (ST Engineering iDirect): “é um momento de disrupção, mas gosto de pensar que a frase de Winston Churchill, “Never take a good crisis to waste”, se aplica aqui. O ponto de referência mudou. E teremos que pensar onde nós agregamos mais valor. O segmento militar, por exemplo, provavelmente vai querer continuar a usar os satélites geoestacionários. Basicamente temos dois caminhos como resposta ao cenário de transformação. O primeiro é o padrão aberto. Buscar padrão aberto possibilita mais oferta de produtos ao mercado, facilita também a implementação e deve reduzir o preço desses produtos. E o segundo caminho são as parcerias e entender, como provedor de tecnologia, onde está a sua essência. E aí também o cloud, o 5G e o Open-RAN talvez ofereçam possibilidades. A gente não tem que entregar tudo. No futuro podemos trabalhar com partes de soluções nossas e parte de terceiros.”