Parte 2: A história das consolidações na indústria de satélites

Intelsat

Apresentamos a segunda parte da história das consolidações no setor satélites, iniciada anteriormente e disponível para leitura aqui. Brevemente, o eBook com a história completa estará disponível neste site.

A quebra do monopólio

Paralelamente ao sucesso do INTELSAT como uma organização internacional para lidar com telecomunicações por satélite, e do surgimento de projetos regionais, voltados para ambições nacionais de desenvolvimento de satélites e das telecomunicações, começam a surgir iniciativas de capital privado, sempre à nível nacional. Até que em 1984, surge uma iniciativa privada norte-americana com a ambição de competir com o INTELSAT internacionalmente, a PanAmSat. Mas essa competição era dificultada pela regulação do tratado de nações. A exigência de coordenação técnica e econômica com o INTELSAT para operar criava uma barreira maior para o sucesso da PanAmSat em relação aos sistemas domésticos via satélite. Além disso, na época, predominava no INTELSAT a provisão dos serviços de voz. Essa limitação acabou sendo uma oportunidade para a PanAmSat, que se voltou para o mercado de transmissão de televisão que estava crescendo enormemente.

A partir daí o congresso norte-americano começa a ser pressionado contra o monopólio do INTELSAT. Com a pressão, aos poucos iam se flexibilizando as cláusulas de proteção. Começaram a aparecer outras empresas privadas dispostas a investir nessa indústria.

Era hora de autorizar a criação de iniciativas fora do INTELSAT porque o desenvolvimento seria muito maior, uma vez que a parte industrial já estava desenvolvida e agora o foco deveria ser expansão com capital privado. Assim, não fazia sentido manter um monopólio intercontinental. A PanAmSat foi, dessa forma, o grande agente da mudança e da quebra do monopólio nas comunicações internacionais via satélite.

Na Europa

Na Europa também havia uma organização intergovernamental, a Eutelsat, fundada em 1982, por um acordo de governo entre os 26 países europeus. Mas, como no resto do mundo, iniciativas nacionais também estavam sendo desenvolvidas. Assim como a PanAmSat surgiu para competir com o INTELSAT, na Europa, a SES –Société Européenne des Satellites surge, em 1985, para competir com o monopólio da Eutelsat.

A SES focou inicialmente no mercado de televisão DTH (Direct To Home) na Europa, sendo a primeira operadora de satélites a desenvolver o conceito de co-localização de múltiplos satélites em uma mesma posição orbital. A empresa chegou a ter 8 satélites co-localizados na posição orbital de 19,2º Leste, o que se tornou um marco no desenvolvimento mundial do mercado de DTH.

Atingindo um crescimento impressionante na indústria, a SES dá início ao seu planejamento de expansão geográfica e de produtos (dados/Internet e governo, além de televisão). Além da inovação técnica da co-localização de satélites, a SES também mostrou ao mercado a eficiência de uma nova estratégia de crescimento internacional por aquisições, inaugurando a fase de consolidações na indústria de satélites.

Início das consolidações

Em 1996, deu-se início a um ciclo de consolidações na indústria mundial de satélites. Inicialmente o movimento veio de fabricantes adquirindo operadores de satélites. Este movimento começou nos EUA, a nível nacional, com a Hughes Electronics Corp comprando a PanAmSat, e a Loral Space & Communications comprando a AT&T Skynet Satellite Services.

Em seguida, 1999, a onda de consolidações passou a envolver operadores. A SES realizou a sua primeira expansão geográfica com a aquisição internacional de 34% da AsiaSat, maior operadora regional na Ásia na época. Em 2000, a SES comprou uma participação de 20% na Star One, sucessora da Embratel como operadora de satélites no Brasil, e de 50% na Nordic Satellite AB, passando a atuar na América do Sul e expandindo sua presença nos países nórdicos da Europa.

Em 2001, a empresa já atuava nos principais mercados regionais, exceto nos EUA. Foi quando realiza uma aquisição que seria um dos marcos do movimento de consolidações no setor de satélites, a compra de 100% da GE American Communications (GE Americom). Nessa época, a GE Americom já tinha adquirido a americana Columbia Communications Corporation. Assim, a SES ficou com um braço europeu e um norte-americano, além das participações na Ásia e América do Sul, tornando-se a maior empresa operadora de satélites do mundo. O sucesso da SES acabou demonstrando aos outros atores da indústria de satélites a efetividade do modelo de crescimento internacional por aquisições, impulsionando as consolidações nessa indústria.

A privatização

O final dos anos 1990 teve um grande número de países desenvolvendo seus sistemas. De repente, centenas de satélites geoestacionários estavam colocados em órbita, e dezenas de sistemas nacionais ou regionais estavam em operação.

Apesar da agilidade dos novos sistemas privados, o INTELSAT tinha um poder de mercado enorme, devido ao monopólio estabelecido anteriormente pelo tratado internacional de países. Como consequência, surgiu a proposta de privatização e a divisão do INTELSAT em duas entidades separadas, para reduzir sua hegemonia no mercado. Foi então criado um sistema subsidiário ao INTELSAT, a New Skies Satellites, com sede na Holanda, para o qual foram transferidos seis satélites do INTELSAT. A New Skies Satellites já funcionou desde seu início de maneira privada, sendo que o controle acionário era o mesmo do INTELSAT.

Assim, em 18 de julho de 2001 a INTELSAT se tornou uma empresa privada após 37 anos de operação, adotando “Intelsat” como nova marca da empresa. A entidade intergovernamental passou a ser nomeada como International Telecommunications Satellite Organization-ITSO, e manteve a finalidade básica de supervisionar e garantir junto aos governos que a entidade privada Intelsat manteria critérios de universalização e de não discriminação na prestação de seus serviços, condições impostas pelos governos para a privatização.

A próxima edição do Abrasat Notícias trará a terceira e última parte da história das consolidações no setor satélites, quando se inicia a sua expansão. A edição trará uma análise sobre o futuro das consolidações nesse mercado. Não perca.