Parte 3: A história das consolidações na indústria de satélites

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A expansão das consolidações

A partir de 2001, quando a INTELSAT se tornou uma empresa privada, após 37 anos como entidade intergovernamental, aconteceram várias outras atividades de consolidação na indústria. A Eutelsat adquire parte da Hispasat em 2001 (revendida posteriormente a entidades espanholas), e 100% da Satmex em 2014.

A exemplo das aquisições que a SES vinha realizando, em 2004, a Intelsat, já como uma empresa privada, adquire a frota da Loral Skynet sobre a América do Norte, e em agosto de 2005, adquire a PanAmSat. No momento da sua venda, a PanAmSat era a principal operadora de canais de TV a nível internacional. Em combinação com a Intelsat, a nova empresa —chamada Intelsat—retoma a posição de maior empresa de satélites comerciais do mundo, com uma frota de 53 satélites, servindo mais de 200 países, com cerca de 1.400 funcionários. Essa aquisição representou um outro marco no movimento de aquisições na indústria de satélites.

Em 2006 a TELESAT e a parte remanescente da Loral Skynet combinam suas frotas de satélites, ampliando sua atuação a nível mundial, mantendo o nome Telesat para a nova operação consolidada.

Em 2007 a SES adquiriu 100% da New Skies Satellites, consolidando sua expansão global e dando continuidade ao seu crescimento orgânico e inorgânico.

A EchoStar, operadora DTH via satélite nos EUA, decide expandir na área de serviços banda larga via satélite, e compra 100% da HUGHES COMMUNICATIONS em 2011.

Seguindo essa tendência, em 2021 a Inmarsat¹aceitou uma oferta de aquisição feita pela Viasat, operadora norte-americana de serviços banda larga via satélite, preconizando sua expansão internacional e, recentemente, foi anunciada a intenção da Eutelsat de fusão com a OneWeb, operadora de constelação global de satélites.

Numa tendência também de verticalização dos serviços das operadoras de satélite, em 2020, a Intelsat incorporou a Gogo, prestadora de serviços de conectividade em aviões e já em 2022, a Hispasat adquiriu a Axess Networks, com sua operação de redes corporativas e teleportos, assim como a SES adquiriu a DRS Global Enterprise Solutions, expandindo seus serviços governamentais.

¹ INMARSAT
De maneira semelhante à criação da INTELSAT, a atual Inmarsat é originária da Organização Marítima Internacional de Satélites (INMARSAT), uma organização intergovernamental sem fins lucrativos criada em 1979 como demanda da Organização Marítima Internacional (IMO) -o órgão marítimo das Nações Unidas. Em abril de 1999, a INMARSAT foi sucedida pela Organização Internacional de Satélites Móveis (IMSO) como um órgão regulador intergovernamental para comunicações marítimas via satélite, enquanto a unidade operacional da INMARSAT foi separada e tornou-se a empresa britânica Inmarsat Ltd.

O futuro multi-órbita

O mercado de satélites de telecomunicações era inicialmente dominado por satélites geo-estacionários (GEO) operando em uma órbita a 36.000 km em torno da Terra. Os serviços móveis por satélites foram os primeiros a investir em constelações globais de satélites em baixa órbita –LEO –Low Earth Orbit (órbitas em torno de 1.000 Km de altitude em torno da Terra). Essa nova etapa de investimentos na indústria foi iniciada pelos sistemas IRIDIUM e GLOBALSTAR nos anos 1990, mas seus custos bilionários limitaram o desenvolvimento dessas constelações.

Em 1994, a Teledesic foi fundada com o objetivo de prover serviços banda larga em órbita baixa através de 840 satélites LEO, mas após anos de investimentos o sistema foi cancelado. Mais de uma década se passou até que a indústria e investidores retomaram o apetite por sistemas de satélites MEO e LEO.

Nesta nova onda de investimentos, a O3b Networks (Other3 Billion) foi fundada em 2007 com o objetivo de prover Internet banda larga através de um sistema de 20 satélites MEO em uma órbita de aproximadamente 8.000 Km em torno da Terra. Por ser um sistema MEO, o número de satélites necessários para uma cobertura global é bem menor quando comparado com os sistemas LEO. O valor do investimento, sendo também relativamente menor, atraiu uma gama de investidores que incluiu Google, HSBC, Liberty Media e Allen & Company.

A SES se interessou pelo projeto e tornou-se inicialmente um investidor minoritário e parceiro estratégico da O3b. Em 2016, a SES adquiriu o restante das ações da O3b, passando a ter 100% do capital da empresa. Ainda em 2017, a SES anunciou a segunda geração MEO: O3b mPOWER, com lançamento previsto para 2022.

O sucesso na órbita MEO reascendeu o interesse por investimentos para novos sistemas LEO voltados para Internet banda larga a nível global. A OneWeb, fundada pelo mesmo criador da O3B, foi estabelecida em 2012 e se tornou operacional em 2020. Novos e grandes atores entraram no mercado LEO de constelações de baixa órbita, como Starlink (liderada pela SpaceX), Kuiper (liderada pela Amazon). A Inmarsat está colocando em serviço um sistema de satélites em órbita elíptica (HEO –High Eliptical Orbit) para proporcionar cobertura no Ártico onde há um grande aumento do tráfego marítimo devido ao descongelamento da calota polar. A Telesat também entra no palco dos sistemas LEO, planejando o sistema Lightspeed.

Os sistemas de órbitas baixa e intermediária são complementares aos sistemas de satélites geoestacionários. Os satélites de órbita baixa/intermediária possuem menor latência, mas não são otimizados para distribuição de TV.

Já os satélites geoestacionários são excelentes em distribuição de TV, além de prover serviços de dados e governamentais. Ambos são capazes de prover serviços ligados à IoT, Internet das Coisas, como telemedicina, veículos automatizados, monitoração de medidores, oleodutos, etc, pois estes serviços têm uma grande gama de requisitos de latência, dependendo de seus objetivos técnicos e comerciais.

Neste sentido, pode-se antever um possível novo formato de consolidação na indústria a partir de agora, o vertical substituindo o modelo horizontal, entre os segmentos LEO, MEO e GEO, com oferta de serviços multi-órbita. A integração MEO-GEO já acontece com a frota de satélites da SES; a Inmarsa tem breve operará uma rede HEO-GEO; recentemente a OneWeb e a Eutelsat anunciaram planos de fusão entre seus respectivos sistemas de satélites LEO e GEO, assim como a Telesat com seus satélites GEO e o sistema LEO Lightspeed.

O futuro multi-órbita é hoje!