Ainda que muito se pense na área das telecomunicações quando se fala em satélites, uma de suas aplicações mais importantes atualmente vem sendo a captação de imagens terrestres, principalmente para a observação de regiões de difícil monitoramento. Com relação à Amazônia, por exemplo, o Brasil já monitorava a situação na região com o uso de dois satélites, mas percebeu que o potencial de coleta de dados por este tipo de equipamento ainda poderia ser mais explorado.
Foi com essa ideia que, às 10h24 (hora local) do dia 1º de março de 2021, o satélite Amazônia-1 decolou da Terra rumo ao espaço, onde foi colocado em órbita depois de um voo de pouco mais de 17 minutos. Apesar de seu lançamento ter acontecido no Satish Dhawan Space Centre (SHAR), na Índia, o Amazônia-1 faz história ao ser o primeiro satélite de observação da Terra completamente projetado, integrado, testado e operado pelo Brasil.
A colocação do equipamento em órbita é apenas uma das etapas da Missão Amazônia, projeto brasileiro que pretende ampliar a captação de imagens do território nacional por meio de satélites. Com fotos tiradas pelo Amazônia-1 e outros dois ainda a serem desenvolvidos, a ideia é que se possa não apenas monitorar a situação de desmatamento na região amazônica, mas também a extensa e diversificada atividade agrária que ocorre no país.
Pela câmera WFI – uma inovação da indústria espacial brasileira –, o Amazônia-1 é capaz de observar uma faixa de 850 km com 64 metros de resolução, além de gerar imagens do planeta Terra a cada cinco dias. As informações coletadas por satélites dessa maneira têm, portanto, potencial de vasta aplicação, podendo ser utilizadas para monitorar queimadas, desmatamentos, reservatórios de água e desastres ambientais, por exemplo.
Os dados obtidos pelo Amazônia-1 estarão disponíveis tanto para a comunidade científica e órgãos governamentais quanto para cidadãos comuns, de modo que qualquer indivíduo interessado no assunto pode ficar a par dos acontecimentos registrados pelo satélite. O objetivo é também colocar o Brasil em uma posição de país que tem condições e capacidade de conduzir e gerenciar missões espaciais relacionadas a obtenção de dados com o uso desses equipamentos, algo que, como já explicado, é de fundamental importância para a obtenção de informações relevantes acerca do território nacional, dentre outras.
A colocação do satélite em órbita põe o Brasil no mesmo nível de outros países do mundo no que se refere a criação de projetos desta natureza. Além disso, a experiência também conta para o constante desenvolvimento e aperfeiçoamento tecnológico na área de satélites para o Brasil, que já tem alguns planos para o futuro deste importante setor.
É o que explica Clezio Marcos De Nardin, diretor do INPE/MCTI, órgão responsável pelo Amazônia-1. Em entrevista para a revista IstoÉ, Clezio apontou para a necessidade de o país continuar com seus projetos espaciais: “ainda precisamos estabelecer um programa eficiente e contínuo de satélites pequenos e desenvolver capacidade de controle de satélites em voo ‘em formação’. Também precisamos adquirir, num prazo um pouco mais dilatado, a competência para desenvolvimento de satélites geoestacionários”. O diretor vê ainda como importante, o investimento em lançadores para satélites pequenos, e para satélites de maior porte subsequentemente.
A ideia de se investir em satélites menores está alinhada com o momento atual do setor, no qual este tipo de equipamento vem recebendo cada vez mais destaque. Não por acaso, os últimos anos da década passada viram um aumento massivo no lançamento de nano e microssatélites, o que pode ser compreendido ao se levar em conta os avanços tecnológicos recentes que permitiram que se reduzisse o custo e o tamanho de satélites sem que houvesse uma diminuição drástica de sua capacidade.
Considerando este momento atual do setor e do país, Clezio não acredita que o marco histórico do sucesso no lançamento do Amazônia-1, por si só, será capaz de atrair investimentos para mais programas espaciais brasileiros. Segundo ele, é apenas com o contínuo desenvolvimento da área, e da consequente demonstração de seu impacto positivo em outras camadas importantes para o Brasil, que o setor espacial nacional receberá mais interesse e financiamento de outras pastas governamentais.