2021: quais os desafios e as oportunidades?

Em artigo publicado no site Satellite Today, o COO da GateHouse SatCom, Thomas S. Jensen, diz que, apesar das muitas dificuldades de 2020, ele acredita que há pelo menos três razões para otimismo em 2021. A primeira é a ascensão dos smallsats. Em sua visão, o potencial dos smallsats parece ilimitado – especialmente em função do 5G. A segunda razão é o setor público. Atraídos pela cobertura global, governos e instituições públicas começaram a aproveitar os serviços de satélite existentes e estão especialmente interessadas em serviços de dados para troca de imagens e vídeos. A terceira razão é o mercado de satélite para nuvem. A computação em nuvem via satélite deve impulsionar 52 exabytes de tráfego até 2029, gerando uma receita potencial de US$ 16 bilhões de 2019 a 2029 – com a maior parte do fluxo de receita indo para provedores de serviços e operadoras de satélite, diz o executivo citando dados do relatório de mercado da Northern Sky Research.

E qual é a visão das empresas que atuam no Brasil? Perguntamos para os CEOs e dirigentes de algumas das principais empresas do mercado de satélites brasileiro quais são os desafios e as oportunidades que o ano de 2021 traz. De modo geral, a transformação tecnológica e nos modelos de negócios da indústria, a perspectiva de normalização de atividades com a chegada das vacinas contra a COVID-19, o 5G, os avanços nas questões regulatórias e a demanda potencial por banda larga via satélite em diferentes segmentos e para conectar localidades remotas são pontos que, apesar dos desafios que o ano ainda trará, justificam uma visão otimista. Veja o que os executivos disseram a seguir.

Rodrigo Campos – Eutelsat

O ano de 2020 foi atípico em todos os sentidos, mas reforçou que a comunicação é uma conquista essencial da sociedade. Diante de tantos desafios, o setor de telecomunicações comprovou a sua resiliência e vimos a comunicação por satélite prestar um serviço inestimável com suas rápidas implementação e expansão, onde houvesse necessidade. Em 2021, a Eutelsat espera o retorno de atividades que estiveram suspensas, principalmente nos mercados de mobilidade (aeronaves e embarcações), a contínua expansão dos consumidores de internet via satélite no Brasil, onde se alcançou uma marca de mais de 250 mil usuários residenciais, além do novo alinhamento das emissoras de TV e operadoras de TV por assinatura, que cada vez mais integram e complementam a recepção dos sinais oriundos dos satélites com a distribuição pela internet. Adicionalmente, a Eutelsat espera que a questão regulatória continue avançando para facilitar e baratear o aceso à comunicação por quaisquer meios de transmissão e que venha a era do 5G.

Edson José de Vito Jr – ABS Satélite

O ano de 2021 será dividido em 2 partes. A primeira parte será caracterizada por uma preparação para a recuperação tendo em vista a indefinição econômica causada, principalmente pela pandemia e suas consequências políticas e econômicas. Os projetos e as oportunidades existem, mas apenas uma pequena parte dos mesmos serão executados nesta etapa. Somente a urgência será atendida ou reparada por decisões não adequadas tomadas no ano de 2020. Projetos de redução de custo ou de continuidade de negócio serão a tônica desta primeira etapa do ano. A expectativa será maior que a realização. A segunda etapa, a qual dependerá da autenticação e sucesso da vacinação e o recuo da pandemia, se iniciará pela demanda reprimida, a retomada do crescimento, o retorno da economia e a expectativa de definição do 5G, mas, de maneira cautelosa e gradativa. Precisamos saber como as contas públicas, as reformas administrativa e tributária vão evoluir para saber qual a velocidade da retomada dos projetos. O ano de 2021 será desafiador e não será fácil, mas importante para uma retomada efetiva em 2022, mesmo que seja um ano de eleição.

Marzio Laurenti -Telespazio

Não tem nada que podemos dizer sobre o ano 2020 que não foi dito, mas com referência ao mercado satélite eu acho que o setor mostrou um certo grau de resiliência. Tivemos com certeza segmentos afetados negativamente, mas tivemos também segmentos que cresceram. Olhando para 2021, acho que todos concordam numa retomada da economia, que será impulsionada pela vacina, possibilitando à sociedade se aproximar do ¨antigo normal¨. A retomada da economia significa para o satélite muitas oportunidades em segmentos como O&G, utilities, mining, agrobusiness e retailers. Não podemos esquecer o 5G e o quanto isso pode significar para o satélite. Não quero aqui focar exclusivamente em SATCOM: o mercado satélite todo está passando por profundas transformações, seja tecnologicamente, com progressos impressionantes, seja nos modelos de negócio, determinados pelas inovações tecnológicas, com afirmação da Space Economy e um crescimento constante e pervasivo de aplicações baseadas em dados satelitais. Não tem como não olhar o futuro com entusiasmo e otimismo.

Mauro Wajnberg – Telesat Brasil

Para este ano de 2021, ainda na esteira da pandemia global, a conectividade confiável continuará a ser altamente relevante, não apenas no Brasil, mas globalmente, já que tantos aspectos de nossas vidas – seja na saúde, no trabalho, na educação ou mesmo para permanecermos conectados com a família e amigos – se tornaram virtuais. Nesse sentido a comunicação por satélite, por sua ubiquidade, continuará a ocupar papel de destaque para a integração virtual de todos os brasileiros, em qualquer lugar do país. Estamos vivenciando um momento em que o setor de satélites está passando por uma verdadeira revolução com as novas tecnologias, como, por exemplo, satélites definidos por software, enlaces óticos entre satélites, antenas eletrônicas e novos recursos sendo lançados em órbitas baixa, média e geoestacionária. Felizmente, a pandemia não interrompeu o desenvolvimento dessas novas tecnologias. Em algum momento a crise se dissipará e haverá uma retomada da economia. Para crescer em todo o seu potencial, o Brasil necessitará ampliar sua infraestrutura e, no que tange a telecomunicação, encontrará o setor satélite preparado para alavancar esse crescimento.

Bruno Henriques – Viasat

A Viasat está otimista com relação a recuperação econômica prevista para o ano de 2021, em todo o mundo. Mercados muito afetados durante a pandemia, como a aviação, já têm demonstrado sinais de recuperação. Já os mercados de banda larga para consumidores finais continuam demonstrando crescente demanda, em especial nas regiões mais remotas e historicamente desconectadas. Tanto no Brasil, como em outros países em que operamos, já estamos vendo maior necessidade nos serviços de conectividade no varejo e no atacado, tanto no mercado residencial, empresarial e corporativo. A banda larga via satélite, com certeza, continuará sendo relevante para conectar a tudo e a todos.

Jurandir Moreira Pitsch – SES

O ano de 2021 será um ano onde as grandes alterações no mercado de satélite continuarão. Primeiro a aposta da maioria das grandes operadoras (e algumas novas) em LEO e MEO continuará a acelerar. Também veremos os esforços concentrados das operadoras da primeira fase na limpeza do espectro de banda C nos Estados Unidos e os primeiros impactos das novas definições regulatórias no uso de parte da banda C na América Latina. Na indústria de GEO o uso de software defined satellites está se consolidando nos novos pedidos das operadoras, aumentando a flexibilidade e diminuindo o tempo de construção e lançamento de novos satélites, algo importante para a sustentabilidade do negócio a longo prazo. Caso as dificuldades com a Covid permaneçam ainda um bom tempo, vamos continuar a ver a expansão de serviços de backbone e trunking para o atendimento do aumento da demanda por capacidade de banda larga em regiões mais isoladas e, ao mesmo tempo, um aumento no número de horas assistidas de televisão, tanto linear como em VOD. De uma forma geral, as operadoras terão um ano com desafios tentando trazer novas opções para o mercado que atendam a crescente demanda por capacidade e constante pressão por redução de custos.

Bart Van Utterbeeck – ST Engineering iDirect

A disponibilidade de vacinas contra COVID-19 oferece uma perspectiva para o fim da pandemia, criando otimismo para 2021. Para 2021 contamos com um crescimento nos mercados de backhaul celular e internet corporativo no Chile, México e Brasil. Em 2021 temos inovações ambiciosas na agenda de novas tecnologias. Para o mercado Broadcast tivemos algumas melhoras em 2020 e esperamos que continuem em 2021, porém estamos ainda longe do auge do período 2012-2014. Devido à pandemia em 2020 tivemos restrições de viagens forçando-nos a ser criativos com novas implementações, trabalhando com “remote hands” e configurações remotas. Nossa expectativa é que seguiremos trabalhando desta maneira até pelo menos metade de 2021.

Lincoln Oliveira – Embratel Star One

Em se falando na área de negócios via satélite, creio que temos sim motivos para sermos positivos em 2021. Porém, analisando o artigo citado da Satellite Today, pareceu-me que o autor foi exageradamente otimista. Ele fala de potencial ilimitado dos smallsats, diz que a cobertura global desses satélites irá facilitar a troca de imagens e vídeos e afirma que poderão atender demandas de computação em nuvem.  Parece haver uma certa confusão no que os smallsats podem realmente oferecer. Certamente poderão atender demandas de IOT, observação da terra e captação de imagens, demandas certamente promissoras. Mas tais smalsats não darão conta de aplicações que requeiram altas taxas de transferência, como banda larga e computação em nuvem. As aplicações de alta capacidade deverão requerer satélites tipo HTS (Hight Throughput Satellites), os quais poderão ser tanto tipo GEO, quanto LEO ou MEO. Há otimismo para esses satélites? Claro que sim, mas o caminho será mais longo. Os modelos de negócio são mais complexos e os investimentos envolvidos são bem maiores. E há ainda uma reflexão a ser feita: se os novos LEO’s HTS irão competir ou complementar os GEO’s HTS. E ainda, quando vão chegar as tão esperadas antenas planas de baixo custo e alta eficiência, sem as quais os LEO’s não conseguirão entregar o serviço de forma direta aos usuários residenciais ou usuários móveis a preços razoáveis. Isso, no caso dos sistemas que escolherem atender esses segmentos. Ou seja, só olhando 2021, podemos ser otimistas, mas nem tanto.

Márcio Assis Brasil – Intelsat

2021 chega com muitas expectativas positivas para o setor e para a Intelsat. Em primeiro lugar, a indústria de satélites provou durante a pandemia ser a solução de telecomunicações ideal para implantação rápida e eficiente de serviços, sempre que houver uma emergência regional ou global. No próximo ano, continuaremos crescendo no setor de mobilidade, tanto para aplicações aeronáuticas quanto marítimas, bem como no rápido desenvolvimento de aplicações móveis terrestres. Também temos grandes expectativas em relação ao leilão de 5G no Brasil, já que o satélite terá um papel fundamental na conexão de backhaul para os novos links 5G e as respectivas obrigações de cobertura 4G. A Intelsat continuará usando novas tecnologias para reabastecimento de satélites em órbita, e desenvolvendo novas. Tudo isso sendo possível por meio da adoção de modelos de negócios inovadores que permitam um atendimento à demanda que seja consistente com os requisitos de mercado, tanto dos clientes como de seus usuários finais.

Rafael Guimarães – Hughes do Brasil

Em 2020 presenciamos a crescente necessidade das empresas e das pessoas por conectividade, devido às medidas de isolamento e à adoção do home office. Esse continuará sendo um grande desafio em 2021, à medida em que as empresas precisarão aprimorar suas estruturas de conexão, mas será ao mesmo tempo uma oportunidade, já que as companhias também precisarão seguir acelerando suas jornadas de transformação digital.  Essa realidade conectada ainda poderá contribuir para o Brasil aumentar a penetração da internet nas áreas rurais, já que mais de 70% dos estabelecimentos do país nesses locais ainda não têm acesso à internet, segundo o IBGE, e isso se converte em uma oportunidade de mercado para a nossa internet banda larga via satélite. De forma geral, com a chegada da vacina contra a covid-19, temos a expectativa positiva de retomada das atividades econômicas e aquecimento do mercado.

Rupert Pearce – Inmarsat

Ao iniciarmos 2021, estamos todos convencidos de que viveremos mais um ano desafiador. Embora os efeitos disruptivos da pandemia ainda serão  sentidos, as constelações de satélites geostacionários (GEOs) HTS / VHTS e de baixa órbita (LEOs) continuarão a desempenhar um papel vital no fornecimento de uma capacidade operacional pronta para atender às necessidades de mobilidade, multimídia, IoT e integração real, incluindo backhauling, com redes móveis terrestres, especialmente em sintonia com a introdução e crescimento da 5G. Em suma, 2021 nos devolverá a esperança de que um ambiente pós-pandemia trará grandes oportunidades para o nosso setor prosperar e que nossos esforços serão vitais para conectar o mundo em ambientes terrestres, marítimos e aéreos.