Este mês, a 23ª edição do Congresso Latinoamericano de satélites reuniu, no Rio de Janeiro, alguns dos principais executivos do setor para discutir para onde caminha essa indústria, quais as tendências de mercado e do cenário competitivo.
Participaram da discussão Fábio Alencar, VP de Vendas para América Latina da SES;Ricardo Laguardia, Vice Presidente Comercial das Américas da Intelsat; Gustavo Silbert, Diretor Executivo da Embratel; Mauro Wajnberg, Diretor Geral da Telesat do Brasil; Rodrigo Campos, Diretor Geral da Eutelsat OneWeb Brasil; Clóvis Baptista, Chairman da Hispasat Brasil. Veja a seguir alguns tópicos abordados no encontro e a visão dos participantes.
Telebrás e a abertura para parcerias público/privadas
Fábio Alencar: “acredito que é o caminho mais eficiente. A Telebrás deve sim atuar como integradora, sem necessidade de ter toda a rede, todos os recursos. Quando ela trabalha com parceiros está dividindo o risco, o investimento, tendo alternativas para corrigir deficiências. Nenhum Estado pode fazer tudo. Hoje, em todos os setores é preciso buscar parcerias para se alcançar a eficiência. O importante é ter serviços a custos competitivos. Acho esse caminho muito bom.”
Mauro Wajnberg: “por questões de defesa, estratégia, interesse nacional, o Estado brasileiro tem a prerrogativa de lançar seus próprios satélites. No GEO, já fez isso com o lançamento do SGDC. Mas no caso da arquitetura LEO é complicado para um país ter a sua própria constelação, porque essa é uma arquitetura intrinsicamente global. E o investimento é muito elevado. Ainda que se faça o investimento sozinho, acaba-se não usando toda a capacidade, já que os satélites rodam o planeta. Uma solução é criar parcerias baseadas no conceito de rede soberana. O governo consegue ter a autonomia de usar uma subrede em baixa órbita dentro de uma rede LEO mais ampla. Mantendo o controle e garantia de soberania para o país. Isso pode ser uma solução interessante para o governo brasileiro.”
Gustavo Silbert: “do ponto de vista do espaço, o Brasil sempre foi muito moderno na sua legislação. Os céus brasileiros são praticamente abertos. A competição aqui é forte e saudável. E isso dá ao governo as mesmas opções de serviços e tecnologia que outros países do mundo. Eu entendo que a Telebrás é um instrumento catalisador que tem o objetivo de aproveitar todos esses serviços e tecnologias disponíveis no mercado para prover um serviço público mais direcionado para cada necessidade específica. Então, a promoção da competição internacional dentro do Brasil e a possibilidade de realizar parcerias são estratégias muito positivas.”
As principais dores dos clientes hoje
Ricardo Laguardia: “quando eu entrei nesta indústria, a gente vendia mega-hertz. Agora a venda é de serviço. Hoje os clientes têm várias necessidades. Então, temos que atender com serviços e também com inovação. Nesse cenário, parcerias são um elemento fundamental. O paradigma de empresas concorrentes mudou para empresas parceiras.
Rodrigo Campos: “preço sempre será uma demanda importante, além de disponibilidade, o SLA (Service Level Agreement), a qualidade de serviço. Nosso foco é o mercado corporativo. E aí, outro item muito importante é a segurança. Preço segurança e qualidade de serviço são as principais demandas do cliente hoje.
Competição com o LEO
Clóvis Baptista: “acho que há mercados para todos. Nós atuamos no mercado corporativo, além de colaborar com o governo brasileiro para diminuir a exclusão digital e temos dedicado grande parte da nossa energia para colocar isso em prática. Então, existem mercados onde é possível competir com soluções inovadoras. Para isso, há a necessidade de investimento contínuo em pesquisa e desenvolvimento.
Ricardo Laguardia: “acredito que o LEO é um complemento. Áreas mais densas, com demanda por qualidade, por SLA, é onde entram os operadores que oferecem multiórbita. E uma coisa importante é o serviço gerenciado.
Rodrigo Campos: “existem mercados onde vamos atuar com GEO, outros com LEO. Acho que existe uma questão de educação do mercado. É preciso entender as aplicações em que cada tecnologia tem mais adequação e eficiência.
Que lição o caso Starlink deixou para o mercado?
Fábio Alencar: “o caso mostrou que essa empresa tem um modelo de operação que para o Brasil nunca foi adequado. O Brasil tem uma legislação para o setor. A Anatel sempre incentivou a competição, mas de uma forma bem controlada, garantindo a soberania do país. Então, esse episódio mostrou que essas características do mercado brasileiro têm um valor e devem ser consideradas. Do ponto de vista jurídico, mostrou como fazer cumprir as leis brasileiras. Além do aspecto de que nós como provedores temos a responsabilidade de controle dos mecanismos de conteúdo.”
D2D e IoT
Ricardo Laguardia: “IoT e D2D são tendências muito fortes que nós estamos observando. Nossa visão é dar apoio para grandes operadores estarem presentes nisso.”
Mauro Wajnberg: “existe um mercado para o D2D, mas ele depende da quantidade de usuários numa determinada região. Pode ser uma estratégia interessante para uma operadora de celular que queira começar em uma região inóspita, que tenha pouca infraestrutura. Mas quando o número de usuários começa a aumentar passa a ser financeiramente interessante colocar um backhaul.”
Gustavo Silbert: “Eu prevejo que da mesma forma que as constelações de baixa órbita criaram uma disrupção enorme no mercado, talvez o D2D tenha o mesmo potencial. Vai depender muito da capacidade que será colocada no espaço, porque a partir do momento que se oferece uma conexão direta com device, o volume de devices que entrarão nessa rede será da ordem de milhões. Existem duas tendências hoje. Uma usando a frequência das operadoras móveis e outra usando a frequência das operadoras satelitais. Provavelmente uma das duas vai prevalecer. Nós estamos sempre olhando serviços ou tecnologias que possam ser complementares ao nosso negócio.