Descarbonização: o impacto positivo dos satélites para o planeta

Descarbonização

A tecnologia via satélite já ajuda a reduzir as emissões de CO2 em um número crescente de setores. Satélites artificiais desempenham um papel crucial na descarbonização do planeta ao fornecer dados e ferramentas essenciais para monitorar e mitigar as emissões de carbono, além de auxiliar na transição para fontes de energia renovável.

Essa contribuição se dá de várias maneiras: monitoramento de emissões de gases de efeito estufa; monitoramento de florestas (desmatamento e reflorestamento) e uso da terra; previsão e gestão de recursos naturais: energia solar e eólica, gestão hídrica; monitoramento de oceanos: saúde de ecossistemas marinhos, acidificação dos oceanos; monitoramento e redução de desastres naturais; dados precisos para apoio e verificação de implementação de políticas públicas e acordos internacionais, são alguns exemplos.

Mas qual é exatamente o impacto das comunicações via satélite nas emissões de CO2 ao redor do mundo hoje? E qual é o potencial para um impacto positivo ainda maior no futuro? A empresa líder mundial em consultoria de tecnologia sustentável, Globant, realizou um estudo de referência sobre o assunto.

O estudo procurou responder à questão: quanto CO2 pode ser evitado, restrito ou reduzido usando tecnologia habilitada por comunicações via satélite? A pergunta foi aplicada a três setores que, juntos, são responsáveis por cerca de 60% de todas as emissões globais atuais: Agricultura, Silvicultura e Uso da Terra; Transporte e Logística; e Sistemas de Energia.

8,8 gigatoneladas a menos de CO2

A análise da Globant revela alguns números surpreendentes. Atualmente, a tecnologia habilitada para comunicações via satélite remove 1.500.000.000 toneladas (1,5 gigatoneladas) de dióxido de carbono equivalente por ano dos três setores incluídos no estudo. Isso é quase igual ao carbono emitido por todas as atividades no Reino Unido, França e Alemanha combinadas a cada ano.

Além disso, há potencialmente mais 4.000.000.000 toneladas (4 gigatoneladas) de emissões de carbono que poderiam ser evitadas se as mesmas tecnologias de satélite para descarbonização fossem adotadas universalmente nesses setores. Isso é mais do que as emissões estimadas de CO2 de todos os carros do mundo durante um ano inteiro.

No total, isso resultaria em 5.500.000.000 toneladas (5,5 gigatoneladas) de emissões de carbono que poderiam ser evitadas nos três setores examinados neste estudo usando a tecnologia existente – mais do que as emissões nacionais de CO2 dos EUA em 2021.

Uma análise de tecnologias emergentes – como o gerenciamento aprimorado do tráfego aéreo ou o transporte marítimo autônomo – mostra resultados ainda mais impressionantes. Essas tecnologias poderiam levar a descarbonização habilitada por satélite a um total de 8.800.000.000 (8,8 gigatoneladas) nos três setores incluídos no estudo. Isso é como evitar as emissões de CO2 necessárias para fornecer energia às Américas do Norte, Central e do Sul por mais de um ano.

A conclusão do estudo é que os satélites artificiais são ferramentas poderosas na luta contra as mudanças climáticas, fornecendo dados essenciais para se entender o problema, monitorar o progresso e implementar soluções de descarbonização em nível global.

Descarbonização: os satélites apoiando os esforços globais

Atualmente, muitos projetos já utilizam os satélites para apoiar a descarbonização e o combate às mudanças climáticas. Um exemplo é o Sentinel-5P, parte do programa europeu Copernicus. Trata-se de é um dos satélites mais avançados para monitorar gases de efeito estufa e outros poluentes atmosféricos. Ele mede concentrações de dióxido de carbono (CO₂), metano (CH₄), ozônio (O₃) e outros gases, fornecendo dados críticos para a análise da qualidade do ar e as emissões globais de carbono.

Outros bons exemplos são, o OCO-2, lançado pela NASA, é projetado para monitorar o dióxido de carbono atmosférico em alta resolução. Ele fornece dados detalhados sobre como o CO₂ é distribuído na atmosfera, ajudando a identificar fontes e sumidouros de carbono. Esses dados são essenciais para entender as dinâmicas do ciclo de carbono e avaliar os esforços de descarbonização.

O satélite BIOMASS, da Agência Espacial Europeia (ESA), que está programado para ser lançado em 2024, usará tecnologia de radar para mapear a biomassa florestal globalmente. Ele fornecerá informações cruciais sobre a quantidade de carbono armazenado nas florestas e ajudará a monitorar mudanças na cobertura florestal, fundamentais para entender o papel das florestas como sumidouros de carbono.

A missão GEDI é outro exemplo de uso do satélite para monitoramento de florestas. Trata-se de um instrumento montado na Estação Espacial Internacional (ISS) que utiliza laser para medir a estrutura tridimensional das florestas tropicais e temperadas. Essas medições são usadas para estimar a quantidade de carbono sequestrado pelas florestas, ajudando a monitorar mudanças na biomassa florestal.

O Sentinel-1, também parte do programa Copernicus, utiliza radar para monitorar mudanças na cobertura do solo, incluindo desmatamento e práticas agrícolas. Esses dados são essenciais para combater a perda de florestas e promover o manejo sustentável da terra, ajudando a reduzir as emissões de carbono associadas.

O GRACE-FO, uma missão conjunta da NASA e do GFZ (Centro Alemão de Pesquisa em Geociências), mede variações na distribuição da água na Terra. Isso inclui o monitoramento de águas subterrâneas e derretimento de geleiras, que são críticos para entender os impactos das mudanças climáticas e gerenciar os recursos hídricos de maneira sustentável, minimizando a pegada de carbono.

Os satélites GOES-16 e GOES-17, operados pela NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA), fornecem dados sobre condições climáticas em tempo real, ajudando na previsão de eventos extremos como furacões, incêndios florestais e secas. Essas previsões permitem uma resposta mais rápida e eficiente a desastres naturais que podem liberar grandes quantidades de carbono e impactar o clima.

No Brasil

No Brasil, os satélites são utilizados para monitorar e detectar alterações na cobertura florestal. O INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – opera um sistema rápido de alertas de evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia, chamado DETER. Desde 2015, uma nova versão do DETER passou a utilizar imagens dos sensores WFI, do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS-4) e AWiFS, do satélite Indian Remote Sensing Satellite (IRS). Recentemente, o sistema DETER revelou que o desmatamento na Amazônia caiu 45,7% de agosto de 2023 a julho de 2024, a maior queda proporcional já registrada para o período. O resultado é o menor da série histórica iniciada em 2016. Por outro lado, o projeto PRODES realiza o monitoramento por satélites do desmatamento por corte raso na Amazônia Legal. Para isso, utiliza imagens de satélites da classe LANDSAT.

Todos esses exemplos, assim como o estudo da Globant, ilustram como os satélites estão sendo aplicados de maneira prática e inovadora para apoiar os esforços globais de descarbonização, fornecendo dados críticos que informam políticas, ajudam a monitorar o progresso e facilitam a transição para um futuro de baixo carbono.