A COP30 – 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, se aproxima. E já falamos aqui sobre o papel dos satélites na descarbonização do planeta. Mas o que os satélites têm a ver com a redução de emissões de gases do efeito estufa? Ou com a adaptação às mudanças climáticas? Ou ainda com o financiamento climático para países em desenvolvimento, a transição para energias renováveis e soluções de baixo carbono, a preservação de florestas e biodiversidade, e a justiça climática?
Esses são os eixos centrais do Acordo de Paris, e os satélites têm muito a contribuir com esses temas, a serem discutidos em novembro, aqui no Brasil, em Belém, PA. Será uma oportunidade de se destacar o papel estratégico e muitas vezes “invisível” que o setor de satélites tem nas pautas relacionadas à preservação do planeta.
O setor não apenas busca reduzir a própria pegada ambiental, mas sobretudo habilita políticas, tecnologias e modelos de negócio que permitem monitorar, prevenir e reduzir emissões. Os satélites também são ferramentas fundamentais para medir, monitorar e apoiar políticas públicas e investimentos em todos esses temas.
Na prática, os satélites oferecem recursos para contribuir em todos os eixos da COP30. Quando se pensa em redução de emissões, por exemplo, satélites como a frota GHGSat, o Sentinel-5P (European Space Agency), OCO-2 (NASA), já trabalham na detecção de emissões de CO₂ e metano de indústrias, agricultura, transporte e energia, contribuindo para a produção de inventários de gases de efeito estufa (GEE). Os satélites também fornecem dados independentes para monitorar compromissos do Acordo de Paris, aumentando a credibilidade dos relatórios nacionais (NDCs). E monitoram em tempo quase real queimadas e desmatamento, principais fontes de emissões no Brasil.
Satélites e os eixos centrais do Acordo de Paris
No item adaptação às mudanças climáticas, os satélites possibilitam o monitoramento de riscos climáticos como enchentes, secas, deslizamentos, ciclones. Satélites de observação fornecem dados meteorológicos e hidrológicos para prever eventos extremos. Imagens para acompanhar bacias hidrográficas, reservatórios e disponibilidade de água, possibilitando a gestão de recursos hídricos.
Seria difícil falar em transição energética sem os satélites para fazer o mapeamento do potencial de renováveis: localização de parques eólicos e solares pela medição da radiação solar, velocidade de ventos e localização de biomassa. A preservação de florestas e da biodiversidade é muito mais eficiente com o monitoramento de desmatamento e degradação florestal de ferramentas como o PRODES (Programa de Monitoramento da Amazônia por Satélite e Programa Despoluição de Bacias Hidrográficas) e DETER (Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real) do INPE e programas internacionais como o Copernicus, componente de observação da Terra do Programa Espacial da União Europeia.
Os satélites ajudam ainda a identificar extração ilegal de madeira, mineração clandestina e ocupação irregular de terras. Permitem estimar quanto carbono está estocado em florestas e como variações impactam emissões. Para completar, ajudam na preservação da biodiversidade, fazendo o monitoramento de habitats críticos, áreas úmidas e corredores ecológicos, fundamentais para conservação da fauna e flora.
Ao pensar em justiça climática, é inevitável lembrar que os satélites contribuem para a democratizar informações, permitindo que comunidades locais, ONGs e universidades acompanhem mudanças ambientais sem depender apenas de governos. Dados satelitais podem apoiar projetos de adaptação em comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas, proporcionando inclusão em políticas públicas. Além disso, o monitoramento independente de compromissos ambientais evita que países ou empresas transfiram custos da degradação às populações mais frágeis, proporcionando transparência e governança.
Em resumo, na COP30, os satélites podem ser apresentados como ferramenta de confiança global para medir e verificar emissões. Base de dados essencial para políticas de adaptação, transição energética e proteção florestal. Instrumento de justiça climática, garantindo que populações locais tenham acesso a informações e que compromissos ambientais sejam monitorados de forma transparente.
A contribuição dos satélites de comunicação
Quando comparados aos satélites de observação, os satélites de comunicação têm um papel menos visível para viabilizar metas do Acordo de Paris, embora contribuam de forma transversal com todos os eixos.
A contribuição mais conhecida é a de proporcionar comunicações de emergência em desastres climáticos, quando redes terrestres falham, assegurando conectividade vital para resgate e coordenação de ajuda e manutenção de serviços críticos como hospitais, infraestrutura de energia e sistemas de água. Também é muito clara a contribuição dos satélites de comunicação para assegurar justiça climática, proporcionando conexão à comunidades isoladas, ampliando o acesso digital em regiões rurais e em países em desenvolvimento, garantindo inclusão no debate climático e acesso a serviços básicos.
Mas os satélites de comunicação também ajudam na redução das emissões ao oferecer conectividade remota, viabilizando trabalho e ensino a distância em áreas sem infraestrutura terrestre, evitando deslocamentos e, portanto, emissões de transporte. Também proporcionam a gestão inteligente de energia, na medida em que satélites suportam redes elétricas inteligentes (smart grids), oferecendo monitoramento e controle remoto da geração renovável. E ainda melhoram a eficiência no transporte aéreo e marítimo, viabilizando navegação otimizada, reduzindo consumo de combustível.
No que se refere à transição energética, parques solares e eólicos em regiões isoladas dependem de satélites para controle e monitoramento. Assim como em Internet das Coisas (IoT), sensores em áreas remotas (linhas de transmissão, turbinas, plataformas offshore) enviam dados via satélite, permitindo maior integração de renováveis. Na conservação de florestas e biodiversidade, embora o monitoramento direto seja feito por satélites de observação, os de comunicação fornecem a infraestrutura para transmitir os dados coletados com segurança e rapidez.


