O presidente e CEO da Telesat, Dan Goldberg, esteve no Brasil este mês e participou da 23ª edição do Congresso Latinoamericano de Satélites. Em sua palestra especial no evento, Dan falou sobre a transformação pela qual a indústria de satélites vem passando e quais as causas e as decorrências dessa transformação que, para ele, pode estar no começo ou no meio. Mas certamente não está no fim. Veja a seguir um resumo da visão apresentada pelo executivo.
A transformação da indústria de satélites.
Há, sem dúvida, uma grande transformação em nossa indústria. Primeiro, o mercado para conectividade de banda larga em todo o mundo está crescendo muito rapidamente. Segundo, hoje, provavelmente, há apenas uma empresa que tem o que eu caracterizaria como uma constelação de satélites de órbita baixa com muita capacidade. E essa empresa é a Starlink. Acho que o que a Starlink demonstrou é que a proposta de valor que pode ser entregue com uma constelação LEO é muito poderosa e é algo que o mercado quer. Mas acho que o mercado também quer mais concorrência.
Os fatores que estão provocando a disrupção.
Inicialmente, o negócio de distribuição de vídeo. Apesar de ainda ser uma parte importante da indústria de serviços fixos via satélite, hoje é um segmento que está sob pressão. E o que motivou isso foi, principalmente, a chegada das plataformas de vídeo over-the-top (OTT), como, no início, a Netflix, e agora uma proliferação de várias outras empresas nesse segmento. Isso não tem nada a ver diretamente com a Starlink. Mas indiretamente sim, na medida em que reflete a importância da internet e da conectividade de banda larga.
Embora ainda seja uma parte importante de receita e fluxos de caixa para muitas empresas, o negócio de distribuição de vídeo está em declínio. Então, é necessário ter um plano de crescimento que seja sustentável e lucrativo.
O lado positivo é que esse declínio está acontecendo justamente por algo que oferece uma oportunidade de crescimento: a conectividade de banda larga. Temos visto o negócio de banda larga crescer – no nosso caso em conectividade para áreas rurais, setor marítimo e aeronáutico. Mas apesar da demanda estar crescendo, a indústria parece estar preferindo uma experiência de baixa latência. Temos ouvido de nossos clientes: “queremos que seja mais rápido, mais barato, mais resiliente, mais distribuído.” E isso nos levou a investir em uma constelação de baixa órbita, a Telesat Lightspeed, voltada ao mercado corporativo e governamental.
Fusões, aquisições e concentração.
É comum que, quando uma indústria de longa data, como a nossa, passa por disrupção, uma das respostas seja que os participantes legados se combinem. Especialmente quando há novos grandes entrantes que são extremamente bem financiados e estão trazendo tecnologia muito disruptiva. O objetivo é obter escala, alcançar sinergias de capital e operacionais, para tentar se fortalecer e tornarem-se competidores mais eficazes neste mercado em transformação. Eu acho que é normal, é natural, e até saudável até certo ponto. Mas isso não é o suficiente. Se essas empresas se combinam, sim, você obtém escala, eficiência, o que pode liberar mais dinheiro, mas é preciso fazer algo com esse dinheiro. É necessário contar uma história de crescimento.
Colaboração entre países e entre empresas.
Acho que é essencial. Essas constelações de satélites em órbita baixa (LEO) são extremamente intensivas em capital. Não há espectro ilimitado disponível, nem órbitas ilimitadas. E esta é uma indústria global.
Embora cada país e cada região tenha suas próprias considerações em torno de soberania, criação de empregos, desenvolvimento de propriedade intelectual, controle soberano sobre infraestrutura crítica, nem todo país vai construir sua própria constelação LEO. Isso não faz sentido. Essas constelações são inerentemente globais.
É muito comum que os países tenham seus próprios operadores de satélite nacionais, com um ou dois satélites geoestacionários. Isso fazia sentido, dado o modo como os satélites GEO funcionavam. Todo o seu investimento estava focado na sua área de interesse. Mas o LEO não funciona assim. Você constrói uma constelação LEO e, às vezes, seu investimento está sobre sua área de interesse, mas muitas vezes não está. Então, o LEO exige novos modelos de cooperação.
Precisamos encontrar maneiras de colaborar para garantir que ninguém seja deixado para trás — não apenas em termos de divisão digital, mas também em termos de regiões e países.
Parcerias governos/empresas ou governos/governos?
Para muitos países, haverá oportunidades de trabalhar diretamente com governos. Isso pode significar que a Telesat trabalhará diretamente com um governo. Temos fornecido serviços para praticamente todos os países do mundo por anos. Então, somos bem conhecidos pela maioria dos países e seus reguladores. Mas isso também pode significar que, se um país preferir, pode haver uma cooperação entre governos. Eu certamente não descartaria isso.
As áreas promissoras.
Áreas que eu acredito que terão um grande impacto na nossa indústria, são o mercado de dispositivos dirigidos, que acredito que será uma oportunidade massiva para o setor de satélites. Também há coisas acontecendo no espaço de observação da Terra com essas novas plataformas e com os links ópticos que permitem muito mais flexibilidade do que antes. E há uma grande oportunidade surgindo no espaço — a conscientização situacional espacial e as oportunidades de lidar com detritos orbitais. Em resumo, nossa indústria está passando por uma grande transição, e eu não sei se estamos no começo ou no meio. Certamente não estamos no fim. E estar atento às novas oportunidades será essencial para cada empresa.