Retrospectiva: 2025 para a indústria de satélites

Satélites em 2025

O ano de 2025 deve ficar marcado como um período de inflexão, em que choques globais nos campos econômico e geopolítico redefiniram prioridades e expuseram fragilidades estruturais do sistema global. Ao mesmo tempo, avanços tecnológicos acelerados, especialmente em inteligência artificial e automação, passaram a influenciar estratégias econômicas e relações de poder entre países. Em que medida esse cenário influenciou o ano para o setor de satélites? Temas como soberania, regulação do espaço e sustentabilidade ganharam destaque. São temas que devem ter repercussões em 2026. Além disso, no Brasil, novos modelos operacionais, regulamentação e TV 3.0, entre outros temas, estiveram presentes ao longo do ano. Veja a seguir uma lista retrospectiva dos fatos de 2025.

Multiórbita: da tendência à consolidação do modelo em 2025

Em 2025, o conceito de multiórbita deixou definitivamente de ser uma aposta futura para se consolidar como um modelo operacional concreto no mercado de telecomunicações por satélite. Operadoras, integradores e grandes clientes corporativos passaram a adotar arquiteturas híbridas que combinam satélites em GEO, MEO e LEO, além da integração com redes terrestres de fibra e 5G, buscando resiliência, flexibilidade e otimização de custos.

O debate ao longo do ano evidenciou que a multiórbita não é apenas uma solução técnica, mas uma estratégia de negócio, capaz de oferecer níveis diferenciados de latência, capacidade e disponibilidade conforme a aplicação — conectividade corporativa, backhaul móvel, governo, defesa ou agronegócio. Em 2025, esse modelo foi amplamente reconhecido como essencial para atender às novas demandas digitais, sobretudo em regiões remotas e em aplicações críticas, marcando uma mudança estrutural no desenho das redes satelitais.

TV 3.0: 2025 como o ano da preparação para a convergência satélite-mobilidade

O ano de 2025 foi marcado pela preparação regulatória e tecnológica da TV 3.0, impulsionada pelo decreto do Ministério das Comunicações que abriu caminho para o uso da nova geração da televisão digital também em ambientes de mobilidade e via satélite. Esse movimento ganhou ainda mais relevância diante do sucesso da TVRO (TV aberta via satélite), que já ultrapassa 15 milhões de domicílios atendidos, consolidando o satélite como plataforma essencial para a distribuição de conteúdo no Brasil

Ao longo de 2025, radiodifusores, indústria e operadores passaram a discutir ativamente como integrar a TV 3.0 à infraestrutura satelital após a implantação da transmissão terrestre, prevista para coincidir com a Copa do Mundo de 2026. O debate destacou o papel estratégico do satélite para garantir capilaridade, inclusão digital e continuidade do serviço, especialmente em regiões onde a infraestrutura terrestre é limitada, reforçando o protagonismo do setor satelital na evolução da televisão aberta no país.

Regulação do espaço: LEO no centro da agenda em 2025

A regulação da ocupação do espaço orbital ganhou protagonismo em 2025, impulsionada pelo crescimento acelerado das constelações de satélites de baixa órbita (LEO). O tema passou a ser tratado como um dos principais desafios regulatórios dos próximos anos, tanto no Brasil quanto no cenário internacional, exigindo uma abordagem que concilie inovação, concorrência e segurança jurídica.

Em 2025, a Anatel intensificou as discussões sobre governança espacial, coordenação de órbitas e uso do espectro, reconhecendo que as constelações LEO têm papel fundamental na democratização do acesso à internet, mas também impõem riscos relacionados à saturação orbital, interferências e dependência tecnológica externa. O ano marcou, assim, uma mudança de patamar no debate regulatório, que passou a incorporar não apenas aspectos técnicos, mas também geopolíticos e estratégicos.

Soberania: tema estratégico no centro das decisões em 2025

A busca por soberania digital e espacial foi um dos eixos centrais do debate em 2025. O avanço de parcerias internacionais, novos modelos de negócios e a consolidação do mercado global de satélites levaram governos e operadoras a reavaliar seus níveis de dependência tecnológica.

No Brasil, a Telebrás reforçou ao longo do ano seu papel como operadora estratégica do Estado, com foco em atender órgãos públicos e implementar políticas públicas, garantindo padrões técnicos elevados sem abrir mão de camadas de segurança, controle e soberania sobre dados e infraestrutura crítica. O debate deixou claro que soberania absoluta, com controle de toda a cadeia tecnológica, é, muitas vezes, inviável, mas que é fundamental manter sob domínio nacional os elementos mais sensíveis da operação, seja por meio de entes governamentais ou empresas consideradas estratégicas e confiáveis.

Sustentabilidade espacial: de conceito a pauta regulatória em 2025

A sustentabilidade no uso das órbitas e do espectro ganhou status de prioridade em 2025. O crescimento exponencial do número de satélites em operação trouxe à tona preocupações relacionadas a detritos espaciais, congestionamento orbital e uso eficiente de recursos limitados.

Ao longo do ano, o tema foi incorporado de forma estruturada à agenda regulatória, com a Anatel promovendo discussões técnicas e estudos aprofundados para subsidiar a Análise de Impacto Regulatório no âmbito da Agenda Regulatória 2025–2026. O foco foi avaliar a necessidade de incluir regras específicas sobre sustentabilidade orbital, alinhadas às diretrizes internacionais, sem comprometer a concorrência ou alterar regras já consolidadas de exploração de satélites. Em 2025, a sustentabilidade deixou de ser apenas uma preocupação ambiental para se tornar um vetor regulatório e estratégico do setor.

Regulamentação: estímulo à conectividade e segurança jurídica

Outro marco relevante de 2025 foi a aprovação, pelo Senado Federal, do PL 4.635/2024, que prorrogou a desoneração de taxas setoriais para estações satelitais de pequeno porte (VSATs) e sistemas de comunicação máquina a máquina (M2M). A medida foi amplamente comemorada por entidades do setor, como Abrasat e Sindisat, por ser considerada essencial para a expansão da conectividade no país.

Em um contexto de transformação digital acelerada, a decisão reforçou o entendimento de que políticas regulatórias e fiscais devem atuar como indutoras de investimento, alinhadas às melhores práticas internacionais, especialmente em um cenário de crescimento das aplicações de IoT, agronegócio, logística e conectividade em áreas remotas.

D2D (Direct-to-device): o tema emergente de 2025

Embora ainda em fase inicial, o Direct-to-Device (D2D) foi um dos temas emergentes mais discutidos em 2025. A possibilidade de conexão direta entre satélites e dispositivos móveis comuns, sem a necessidade de terminais dedicados, passou a ser vista como uma ruptura no modelo tradicional de conectividade, com implicações profundas para operadoras móveis, reguladores e governos.

Ao longo do ano, o D2D foi tratado principalmente sob a ótica regulatória e estratégica: como integrar essas soluções às redes existentes, como garantir o uso eficiente do espectro e como preservar a soberania e a segurança das comunicações. Em 2025, o D2D ainda não se consolidou comercialmente no Brasil, mas entrou definitivamente no radar dos formuladores de políticas públicas e do mercado, sinalizando mudanças estruturais para os próximos anos.

IA: eficiência operacional e autonomia como marca de 2025

Em 2025, o uso de Inteligência Artificial (IA) deixou de ser experimental para começar a assumir funcionalidades nas operações. Algoritmos de aprendizado de máquina passaram a ser aplicados na gestão de constelações, no monitoramento da saúde dos satélites, na prevenção de falhas e na otimização dinâmica do uso de espectro e capacidade. A IA também ganhou protagonismo na análise avançada de dados de observação da Terra, acelerando a geração de insights para aplicações em clima, agricultura, segurança e defesa. Além disso, em um contexto de crescimento das constelações LEO e de maior congestionamento orbital, a IA tornou-se ferramenta estratégica para previsão de colisões, planejamento de manobras e sustentabilidade espacial, reforçando a tendência de sistemas cada vez mais autônomos e inteligentes no ambiente orbital.

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