Um dos painéis mais tradicionais do Congresso Latinoamericano de Satélites, o Executive Summit, reuniu, no último dia 9 de outubro, as principais lideranças do setor de satélites para apresentarem suas visões sobre essa indústria. Participaram Ricardo Laguardia, VP de vendas da SES para América Latina; Rodrigo Campos, diretor geral da Eutelsat do Brasil; Dolores Martos, Regional Sales Vice President Latam da Telesat; Leandro Gaunszer, diretor-geral da Viasat no Brasil; Luiz Vargas, GEO Manager Retail Brasil & Chile da Hispasat; Felipe Saad Lukowiecki, diretor comercial para as Américas da ABS; Gustavo Silbert, diretor executivo da Claro empresas.
Perguntados, pelo jornalista e moderador Samuel Possebon, sobre as prioridades e pontos de atenção das suas empresas hoje, alguns temas foram citados quase unanimemente pelos participantes: integração tecnológica, modelo multi-órbita, a importância das parcerias, a importância da regulação, inovação e as questões de geopolítica e soberania.
Sobre o modelo de parcerias
Para os painelistas, o modelo de parcerias surge como uma necessidade quando se estabelece o modelo de multi-órbitas. “Hoje a demanda por capacidade é muito grande. E isso vem crescendo no Brasil e no mundo”, observou Ricardo Laguardia. “A multi-órbita chega como uma resposta para essa questão”.
Para Rodrigo Campos, as parcerias são uma otimização de investimentos e de recursos que já acontece tradicionalmente no setor, como no caso de compartilhamento de infraestrutura de rede. Mas agora, pela complexidade das constelações LEO, e por questões de geopolítica, surge um tipo de parceria, de otimização, que permite começar a baixar os valores e atender mercados via satélite com custos bem mais acessíveis comparado com cinco ou dez anos atrás.
Luis Vargas explicou que com o projeto IRIS Square, constelação de satélites da União Europeia, será possível apoiar startups que desejam inovar no espaço. “O IRIS vai oferecer um espaço adicional de integrar outros serviços e tecnologias. É uma janela da União Europeia que abre portas de uma maneira diferente para todos nós. Não só para o governo, mas para todos. Acreditamos que as parcerias fazem parte do novo mundo. Atender novos mercados significa trabalhar com parceiros”, disse.
Leandro Gaunszer destacou outra dimensão importante das parcerias que se relaciona a quão importante a conectividade é hoje para o cliente em qualquer vertical. Para ele, quando se fala em parceria, existem duas dimensões: mais de um fornecedor atuando e multitecnologia. O que se traduz em mais confiabilidade e resiliência de redes na prestação de serviço.
Felipe Saad observou que o GEO continuará tendo papel importante para a ABS. A operadora, contudo, também quer participar do momento multi-órbita. Para ele, a empresa é bastante neutra em termos de geopolítica e tendo parcerias nos Estados Unidos, China, Rússia. “Todos nessa mesa são parceiros da ABS em algum lugar. A continuidade do mercado depende sem dúvidas dessas parcerias”.
Desafios do mercado brasileiro
Sobre os desafios do Brasil para o setor, a questão regulatória é um dos principais pontos. Ricardo Laguardia considera que é necessário que tenhamos uma regulação coerente e cabível para todos. Para Rodrigo Campos há dois aspectos importantes. O primeiro é a revenda de capacidade, que atualmente não é permitida, mas que hoje faz sentido que seja flexibilizada. O segundo aspecto é que o regulamento está muito voltado para o início da operação de satélites não geoestacionários. “Hoje já temos operações consolidadas e isso traz novos aspectos que deveriam ser tratados”.
Para Dolores Martos um ponto importante em relação à regulação é que as exigências sejam iguais para todas as constelações. “Se há uma exigência que se coloca para as constelações, que essa exigência seja a mesma para todas. Estamos implementando um sistema muito avançado para evitar colisões entre satélites, essa mesma exigência deveria ser incorporada para outras constelações LEO. Por exemplo em constelações IoT”, disse.
Para Gilberto Silbert, a assimetria das regulações dos satélites geoestacionários versus as órbitas mais baixas precisa ser endereçada, não só no Brasil, mas mundialmente.
Conseguir atrair investimentos para o Brasil também passa por segurança regulatória, questão de impostos e pela questão da soberania, segundo Leandro Gaunszer. “Como o Brasil vai se posicionar quanto à sustentabilidade espacial, quem pode operar, como operar, regras claras. Isso ajuda a trazer investimentos para o Brasil”.
Outro desafio é a importação de equipamentos que não têm fabricação nacional e cuja taxa de importação média gira em torno de 80% do custo dos produtos, no caso de um terminal de satélite. Para Rodrigo Campos, esse valor é um impeditivo até para políticas públicas, já que conectar todos os rincões do Brasil só é possível com o satélite. “E a experiência de redução do Fistel já demonstrou os bons resultados desse tipo de iniciativa”.
Luis Vargas destacou como desafio do país, liderar, apoiar e reunir outros países da América Latina na busca por soberania digital. Segundo Vargas, a indústria de satélites do Brasil é a indústria mais madura da América Latina e pode assumir esse papel de liderança.


