O uso dos satélites para políticas públicas

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6,4% dos domicílios brasileiros não têm conexão de internet e 1.207 municípios não têm fibra. Essa, segundo Flávio Santos, CEO da EACE (Entidade Administrativa da Conectividade de Escolas), é uma amostra do desafio de conectividade do país. Mas diversas políticas públicas, sobretudo aquelas em áreas de baixa conectividade, podem se beneficiar de aplicações via satélites. E a Telebrás, por meio de parcerias com o setor privado, estabeleceu um modelo que tem ajudado no desenvolvimento dessas políticas.

Essa foi a abordagem do painel “O uso dos satélites para políticas públicas”, realizado no Congresso Latinoamericano de Satélites, principal evento dedicado ao mercado de serviços, aplicações e tecnologias via satélites do Brasil. Além de Flávio Santos, participaram do painel, André Magalhães, presidente da Telebrás; Mauro Wajnberg, Diretor Geral da Telesat Brasil, Sérgio Chaves, head de vendas de varejo da Hispasat e Samuel Possebon, como moderador.

Um hub de soluções satelitais

Para Flávio Santos, a política da Telebrás de reunir vários parceiros, juntou a experiência que a Telebrás tem em localidades remotas, obtida desde o trabalho de atendimento do antigo Gesac, com a capacidade e agilidade de operação das empresas do setor. “A Telebrás faz o importante papel de ser um hub de soluções satelitais a partir dessas parcerias”, disse Flávio.

Para Sérgio Chaves, é correta a decisão da Telebrás de fazer parcerias com o setor privado. Isso gera uma disputa pelo atendimento das necessidades na área de políticas públicas, o que é muito positivo para o desafio de se conseguir fazer chegar conectividade a uma população excluída, com qualidade e agilidade. “Entendemos que essa é uma política que tem dado frutos, com competitividade”, disse.

“Para mim, o modelo de parcerias que a Telebrás está fazendo, é muito inteligente”, diz Mauro Wajnberg. “Temos no Brasil as principais operadoras de satélites, com uma enorme capacidade disponível, por que não usar isso? ”. Mauro pontua que esse modelo de parcerias é importante e deve partir de algumas premissas. A primeira é ter um parceiro confiável e comprometido com o país. A segunda é ter um parceiro que está comprometido com a evolução tecnológica.

“Hoje você tem uma solução, mas a tecnologia está evoluindo muito rapidamente. Então, seu parceiro tem que estar comprometido a lhe trazer a solução em estado da arte”, explica. A terceira premissa é um parceiro que permita à Telebrás ter gestão e autonomia. “Quando você começa a trabalhar com diversos parceiros, há o risco de se perder um pouco o controle da gestão da rede. Por isso a importância desse item”, disse Mauro.

Ao ser questionado sobre a complexidade de se lidar com tantos parceiros, André Magalhães explicou que uma característica comum a todos os parceiros da Telebrás é a competência e a responsabilidade. “Essa trajetória das empresas no mercado é muito positiva. Não temos problema de capacidade de entrega por parte dos nossos parceiros. Mesmo com o enfrentamento logístico que é imenso. Mas lidar com a diversidade desse conhecimento exige cuidado. Não posso deixar os processos totalmente abertos, sem padronização nenhuma, como também não posso controlar demais, para não engessar  o processo. Esse meio termo se alcança pela experiência da Telebrás em saber dosar as demandas de acordo com cada parceiro”, disse André.

As demandas dos órgãos públicos

André explicou que, muitas vezes, os órgãos públicos contratantes de serviços da Telebrás não têm o conhecimento técnico para requisitar o serviço. Então, a Telebrás avalia cada demanda e consegue prover um diagnóstico adequado, seja em relação à tecnologia, seja em relação a custo. Nesse sentido, a Telebrás se posiciona para atuar como uma consultora, elaborando  um desenho de uso satelital para as diferentes demandas. “E não apenas a conexão, mas também os serviços agregados que vão tornar essa conectividade significativa”, explicou André.

Sérgio Chaves acredita que “faz todo o sentido oferecer além de conexão, serviços agregados. O importante não é só a conectividade, mas o que eu faço com a conectividade”. Ele contou que é possível oferecer muito conteúdo. “Até  uma Escola Digital, com conteúdo para alunos e gestão do professor sobre o que o aluno está fazendo”.

Mauro acrescenta que além de conteúdo, também é possível agregar um valor que é muito relevante atualmente, a soberania. Uma constelação de satélites é algo complexo, que leva tempo para se construir, além de ser oneroso. “Trata-se de uma arquitetura global. Então, será que é prioridade para um país como o Brasil construir uma constelação”, questionou. Solucionar um dilema como esse, entre manter a soberania, sem ser o dono da constelação, é um bom exemplo de formas de se agregar valor.

Para Mauro, existem maneiras de mitigar esse problema. “Entre não ter nenhuma soberania ou ser totalmente soberano, existem nuances. Por exemplo, o país pode ter uma coleção de satélites operando dentro de uma constelação de forma independente. Ou quase autônoma. Ou o país pode operar como um operador virtual. Uma constelação virtual com atributos que lhe permitam independência e autonomia, ou seja, atributos de soberania”, disse. “Por exemplo, atributo de geofence, de modo que os dados de um país não vão sair das suas fronteiras. Ou ofuscação de terminal, que significa que só o país vê onde está o seu terminal, ou ainda criptografia”.