A Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações – considera que o satélite é a solução para se alcançar o objetivo de levar conectividade, com concorrência, para todo o Brasil. Essa foi a avaliação do gerente de outorga e licenciamento de estações da Agência, Renato Sales Bizerra Aguiar, durante sua participação no painel “Satélites: conectividade sem fronteiras”, realizado na Futurecom 2025, no dia 30 de setembro.
O painel também contou com a participação de Levi Figueiredo, diretor comercial da Telebras; Fábio Alencar, presidente do Sindisat e VP de Vendas Mídia Latam da SES; Leandro Gaunszer, diretor geral da Viasat Brasil; Alejandro Guerra Najar, vice-presidente de vendas LATAM da Eutelsat; Ricardo Amaral, vice-presidente de B2B da Hughes e Mauro Wajnberg, presidente da Abrasat e diretor geral da Telesat Brasil, como moderador.
Aguiar enumerou os desafios para a plena conectividade no Brasil, como a sua dimensão territorial – a quinta maior do mundo – e a concentração da população em regiões específicas, fazendo com que regiões com pequena densidade populacional, mas alto valor estratégico, não sejam alcançadas pela infraestrutura terrestre devido à inviabilidade econômica. É o caso de áreas agrícolas, rodovias, entre outras.
Para o representante da Anatel, esse cenário reforça a importância das novas regras da Agência para o setor de conexão satelital. O novo Regulamento Geral dos Serviços de Telecomunicações unifica a autorização para serviços terrestres e por satélite, permitindo oferta de telefonia e internet via satélite com uma só licença. Na prática, abre-se espaço para que operadoras móveis utilizem satélites para completar cobertura e ofereçam conectividade direta ao dispositivo do usuário (direct-to-device).
Levi Figueiredo, reforçou o papel do satélite como ferramenta de política pública. Para ele, a conexão gera inclusão. Mas é necessário se agregar valor à essa inclusão por meio de conteúdo, serviços e uma estratégia ampla de inclusão digital.
Levantado o tema do aumento de lançamentos de constelações LEO em todo o mundo, Fábio Alencar destacou que, apesar do impacto das constelações nos negócios, considera que o mercado vai continuar com espaço e demanda para as três órbitas (GEO, MEO e LEO). Para ele, o tipo de aplicação definirá a órbita a ser utilizada. O grande desafio é sempre o custo da operação e o preço final ao consumidor. Por isso, competição e a integração com soluções terrestres são fundamentais. Questionado sobre o direct-to-device, Alencar acredita que o D2D é parte do futuro da indústria e a tecnologia não irá competir com a conectividade terrestre, mas será uma solução de complementaridade.
D2D, soberania e sustentabilidade espacial
Leandro Gaunszer também apontou o caminho do mercado como sendo multi-órbita. Ele acredita que o D2D é a nova onda de tecnologia e chamou atenção para outra questão que justifica o investimento nos satélites: a geopolítica.
Alejandro Guerra alertou para o avanço das constelações LEO e o que isso significa para o desafio da soberania digital. Ele calcula que nos próximos cinco anos, podem haver mais de 60 mil satélites em baixa órbita. Segundo Guerra, isso exigirá um debate global sobre regulação, segurança e sustentabilidade espacial.
Ainda sobre soberania, Mauro Wajnberg pontuou que é possível implementar funcionalidades para assegurar a soberania em redes com arquitetura LEO.
Ricardo Amaral destacou que o satélite é meio, e o foco deve ser entregar soluções completas para o cliente.
O painel mostrou que a evolução das tecnologias, a integração de órbitas, as regras mais flexíveis, farão o setor satelital se tornar protagonista em conectividade crítica. A convergência com redes terrestres, a ampliação do debate sobre soberania digital e os novos modelos de negócio apontam um futuro onde tecnologias satélite e terrestre trabalharão juntas.


