Constelações LEO/NGSO: chegou a hora para essa evolução

Como os novos entrantes no mercado de constelações LEO/NGSO estão revolucionando a indústria espacial e aprimorando a conectividade? Essa foi a pergunta que o painel “Constelações LEO/NGSO e Internet via satélite”, realizado no dia 29 de outubro, durante a Futurecom 2019, tentou responder. Participaram da discussão executivos das empresas que estão apostando nessa tecnologia para o Brasil: Fábio Alencar, head de desenvolvimento corporativo para América Latina na SES ; Lincoln Oliveira, diretor geral da Embratel Star One – Claro; Mauro Wajnberg, general manager da Telesat Brasil, além de Alex Pires de Azevedo, especialista em regulação da Anatel.

O moderador Luiz Perrone, uma das referências profissionais do setor no Brasil e no exterior, iniciou a discussão com a questão: quais são os desafios que projetos nessa área enfrentam? Fábio Alencar disse que a SES, por meio da O3b, opera desde 2014 uma constelação de satélites Órbita Média (MEO) atualmente com 20 satélites, operando em banda Ka, com cobertura global. Em 2021 está previsto o lançamento de mais sete satélites, agora com a tecnologia O3b MPower, com maior capacidade e mais flexibilidade, permitindo uma alocação dinâmica da capacidade. Ele vê como maior desafio conseguir oferecer o menor custo possível que permita uma integração ainda maior com as redes terrestres.

Para Mauro Wajnberg, o que o usuário demanda hoje é baixa latência, taxas de transmissão elevadas  e menor custo por Mbps. Em sua visão, a melhor arquitetura para enfrentar esse desafio é a constelação em órbita baixa (LEO). “Enquanto o satélite geoestacionário HTS entrega tipicamente 50 Gbps, a constelação LEO entrega na ordem de Tbps e com custo menor para o usuário final”, diz. A Telesat planeja uma das principais constelações de órbita baixa com mais de 300 satélites interconectados e capacidade estimada em 700 Gbps apenas para o Brasil e 2Tbps para a toda América Latina em 2022. A Telesat já lançou o primeiro satélite LEO e está fazendo testes de conceito com clientes de conectividade aeronáutica e com a Surrey University para 5G. Recentemente recebeu apoio do governo do Canadá para pesquisa e desenvolvimento e para levar conexão banda larga em áreas remotas do Canadá através da constelação LEO.

Lincoln Oliveira acredita que o clima gerado por conta da chegada dos satélites não Geoestacionários (NGSO) já traz dois desdobramentos positivos: serviços satélite mais baratos e criação de novas cadeias de valor no mercado – novas formas de fabricação, novos sistemas de lançamento, terminais etc. Lidar com essa disrupção é o desafio.

Representando a Anatel, Alex Pires de Azevedo explicou que hoje o Brasil tem 53 redes de satélites autorizadas, sendo 37 estrangeiras, 16 brasileiras, e 4 redes NGSO. Um grande desafio é a coordenação entre os sistemas para se evitar interferências. A Anatel ainda não tem uma regra específica para os satélites não geoestacionários, “nem mesmo a UIT tem”, explica Azevedo. O que se está fazendo atualmente, que é adaptar a regulamentação brasileira à nova lei de telecomunicações (PL79) recentemente promulgada, não distingue entre GEO e NGSO. Por isso, ele acredita que este é um bom momento para debates.

Lembrando os pioneiros do mercado mundial no segmento de constelações e da inviabilização de seus projetos no passado, Perrone questionou o que teria mudado agora para que esse negócio tenha sucesso. Os painelistas acreditam que foram desenvolvidos alguns “anticorpos” para proteger os novos projetos de constelações.  Para Wajnberg, “os pioneiros estavam adiantados em relação à demanda do mercado. Mas agora a hora chegou. Agora é o momento porque a tecnologia evoluiu”. Os satélites se intercomunicam, os payloads são definidos por software, os custos de fabricação e lançamento são menores. Além disso, completou Fábio, o aumento da demanda por conectividade e dados incentiva a disposição para se investir nesse segmento. Lincoln também cita o surgimento da Inteligência Artificial como determinante para o sucesso das mega constelações. Sem ela, acredita, não será possível o sucesso deste modelo em função das múltiplas operações simultaneas e contíuamente que precisam ser realizadas em uma constelação.

Considerando que as constelações de satélites são globais, Perrone quis saber qual a visão dos participantes sobre compartilhamento de constelações. O importante é se evitar, via regulação, o chamado “estoque de papel”, ou seja, o monopólio de autorizações de operação, e permitir competição nas constelações. Segundo Wajnberg,  existe um procedimento em discussão na UIT com a exigência, para todas as constelações já autorizadas, de serem lançados no mínimo 10% dos satélites das referidas redes até janeiro de 2024 e prazos adicionais para a entrada em operação comercial plena das constelações.